domingo, 19 de dezembro de 2010

A Guerra de Tróia (Parte V)

O cavalo de madeira e o fim de Tróia


Após dez anos de luta, sem que Tróia parecesse
ceder, os gregos resolveram finalmente dar o
golpe decisivo contra a cidade. Empregaram
o que seria muitas vezes reconhecido como seu
maior talento: a inteligência e a astúcia. Quem teve a
idéia decisiva foi o preferido da deusa da sabedoria,
Odisseu, ou Ulisses, um homenzinho atarracado,
dotado de uma sagacidade que o tornava
indispensável ao exército. Seguindo instruções desse
homem astucioso, Epeu construiu um grande cavalo
de madeira e em seu enorme ventre entraram os
maiores guerreiros da Grécia.

Os gregos fingiram que tinham partido de Tróia e
que finalmente retornavam para casa, cansados da
longa e inútil guerra. Na verdade, esconderam-se na
ilha de Tênedos, que ficava próxima. Antes da
partida, fizeram chegar aos troianos o rumor de que
o enorme cavalo de madeira que haviam construído
era uma oferenda à deusa Palas Atena, para que ela
assegurasse um bom retorno a todos. Aliviados, os
troianos saem dos muros que os protegiam e visitam
o campo de tantas batalhas. Diante da alegria
despreocupada dos seus, o sacerdote de Netuno,
Laocoonte, se revolta:

— Que loucura é essa, infelizes cidadãos? Acham
que os inimigos foram mesmo embora, que os dons
dos dânaos não contêm nenhuma armadilha? Temo
os gregos mesmo quando trazem presentes!
E assim dizendo atirou uma lança no cavalo, cujo
interior ressoou e pareceu soltar um gemido.

De repente se ouviu um clamor de vozes; pastores
troianos traziam para junto do rei um jovem grego
que tinham encontrado amarrado não muito longe
dali. A notícia logo se espalhou e todo mundo
acorreu para ver o rapaz e saber o que ia acontecer
com ele. Admirados, ouviram suas primeiras
palavras:

— Ai!, que resta para este infeliz? Não há lugar para
mim entre os gregos, ao passo que os troianos querem
se vingar com meu sangue!

Eram palavras entrecortadas de gemidos e
lágrimas. Atiçaram a curiosidade de todo mundo, e
talvez já começasse a nascer ali um pouco de piedade
no coração dos troianos. Todos o estimularam a dizer
quem era e o que lhe acontecera. Disse ele:

— Não negarei que sou grego; posso ser um
pobre infeliz, mas não um mentiroso. O odioso
Odisseu quis se vingar de mim, porque eu era
companheiro de Palamedes. Odisseu odiava tanto
esse homem que conseguiu fazer, através das mais
sórdidas intrigas, que os gregos o condenassem à
morte por traição. Eu fiquei indignado com o fim
daquele inocente, prometendo vingá-lo, e Odisseu
nunca me perdoou isso; pelo contrário, começou a
fazer ameaças, a tecer acusações falsas. Não
descansou enquanto não conseguiu a ajuda do
adivinho Calcas... Mas por que fico falando dessas
coisas? Se vocês consideram todos os gregos da
mesma forma, vamos, matem-me! Odisseu ficaria
bem contente com isso, e Menelau e Agamêmnon
lhes dariam uma boa recompensa...

Aquela era uma interrupção estratégica: os
troianos arderam de curiosidade para saber o que
acontecera com Sinão e que estaria fazendo o
adivinho naquela história intrigante. Assim, rogaram
que o rapaz continuasse a narrar os crimes da raça
odiada. Fingindo como sempre, Sinão prosseguiu:

— Cansados dessa guerra, os gregos muitas vezes
pensaram em ir embora, mas o mau tempo sempre os
impedia. Um vento violento varria as ondas do mar,
o céu se cobria de nuvens e trovejava espantosamente,
sobretudo depois que o cavalo de madeira
construído para a deusa Palas ficou pronto. Consultado
o oráculo de Apolo,
os deuses nos mandaram
esta mensagem horrível:
“—Com sangue se deve
buscar o retorno, sacrificando
uma alma grega!”
Ficamos todos apavorados,
perguntando-nos quem de
nós os destinos e Apolo estavam reclamando.Odisseu, então, traz o adivinho Calcas e o
obriga a dizer que os altares estavam destinando à
morte... Sinão, a mim, que aquele velhaco queria há
tanto tempo pôr a perder! Todo mundo, aliviado de
escapar à morte, aprova as palavras de Calcas. Chega
o dia do sacrifício; amarram-me e colocam fitas em
volta da minha cabeça, polvilhada com cevada e sal,
como é costume fazer com os animais oferecidos aos
deuses em sacrifício. Fugi, confesso a vocês, mas já
não tenho esperança de rever meus queridos filhos e
meu saudoso pai. Pelos deuses do alto e pelos
numes da verdade, suplico-lhes, tenham compaixão
de uma alma que suportou tamanhos sofrimentos
sem merecer!

Sinão terminou esse discurso em lágrimas,
comovendo o coração dos troianos. Por fim, com a
mesma habilidade, contou como o cavalo fora
construído para obter as boas graças de Palas Atena.

Por recomendação de Calcas, tinham feito algo
enorme, que fosse impossível de penetrar nos muros
de Tróia, afinal a posse do cavalo significaria a
proteção da deusa para seu povo. Se o recebessem na
cidade, um dia Tróia haveria de fazer uma guerra
vitoriosa aos gregos; porém, se maltratassem o dom
de Palas, grande mal adviria para o Império de
Príamo.

Mas eis que de repente um prodígio aterrador veio
perturbar a mente e o coração dos troianos ainda
mais. Quando Laoconte, que atingira com a lança o
cavalo deixado pelos gregos, estava
sacrificando um touro na praia, da
ilha de Tênedos, através das águas
tranqüilas, duas serpentes
gigantescas começaram a vir
em sua direção.

Tinham enormes anéis e seus peitos
erguidos e suas
cristas cor de sangue se sobressaíam sobre as ondas.

Faz-se um estrondo no mar espumante. E eis que logo
chegam à praia e se dirigem ao sacerdote com os
olhos ardentes injetados de sangue e fogo e vibrando
as línguas sibilantes.

A esse espetáculo horrendo, os troianos fogem
em disparada, brancos como cera. Os monstros do
mar buscam Laocoonte e envolvem em seus anéis
gigantescos o sacerdote e seus dois filhos. O pai
estava armado, mas as serpentes o prendem com nós
apertados em volta do seu corpo, impedindo
qualquer reação. Laocoonte tenta em vão afrouxar os
nós, ainda segurando nas mãos as fitas do sacrifício,
agora tingidas de sangue e do negro veneno dos
monstros. Ao mesmo tempo solta em direção aos
astros horrendos berros. Pareciam os mugidos de um
boi que foge do altar, depois que recebeu um golpe
de machadinha no pescoço não forte o bastante para
derrubá-lo em sacrifício aos deuses. Os dragões
então se dirigem ao santuário da deusa Palas e se
escondem sob o escudo aos pés da deusa.

Esse acontecimento pareceu aos troianos uma
severa advertência da deusa, afinal Palas Atena
punira com as serpentes do mar o sacerdote que tinha
atirado uma lança contra o cavalo a ela dedicado.

Mais que depressa, eles transportaram aquele objeto
gigantesco para dentro de suas muralhas. Ao som de
hinos religiosos, com festas e alegres cânticos, o
cavalo foi introduzido na cidade.

Nessa noite, enquanto os troianos dormiam, como
que sepultados no sono e no vinho, a esquadra grega
deixou Tênedos e se dirigiu a Tróia, encoberta pelas
trevas que pareciam abraçar todo o mundo,
cúmplices da estratégia de Odisseu. Sem ser visto,
Sinão caminhou até o cavalo e chamou os guerreiros
para fora. É sobre uma Tróia despreocupada e desarmada
que se precipitaria o inimigo, sedento de
vingança depois de tantos anos de luta inútil.

E aquela foi a última noite da outrora próspera
cidade asiática, vítima dos deuses, da esperteza de
um grego, de palavras e lágrimas mentirosas, mas
também da sua própria boa-fé e compaixão. Muitos
dos guerreiros gregos que praticaram naquela
ocasião toda espécie de crime seriam castigados
depois, ao passo que os troianos que conseguiram
escapar da cidade em chamas haveriam de lançar as
sementes de uma outra e muito mais poderosa Tróia,
a futura Roma, como se os deuses se divertissem em
erguer hoje às alturas da glória os que amanhã
tombariam na mais dura ruína e vice-versa. Mas essa
já é uma outra história.

Em pouco tempo, uma cidade próspera e rica
tombava em ruínas junto com seu velho rei, Príamo,
logo reduzido a um mísero corpo decapitado, sem
ninguém que lhe desse sepultura. Em pouco tempo,
toda a cidade se enchia de lágrimas de mulheres e
crianças logo escravizadas para servir aos senhores
gregos. As trevas que haviam dissimulado a
irrupção do inimigo pela cidade iluminavam-se com
o fogo de um incêndio que parecia querer durar para
todo o sempre.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Guerra de Tróia (Parte IV)

O calcanhar de Aquiles


O mais bravo dos guerreiros gregos era Aquiles,
o herói de pés ligeiros. Sendo filho de um mortal
com uma ninfa, estava destinado à morte. Mas sua
mãe, Tétis, tentou desesperadamente torná-lo imortal.

Segurando o filho pelo calcanhar, ela o
mergulhava nas águas do Estige, o rio dos Infernos,
que tornava invulnerável o que nele mergulhasse. A
ninfa, porém, não percebeu que o calcanhar, por
onde segurava Aquiles, acabou não sendo tocado por
aquela água miraculosa; assim, essa parte do corpo
do herói seria a única que armas humanas ou divinas
poderiam atingir.

Na sua infância, Aquiles foi educado por um ser
de vastos conhecimentos e muita sabedoria: o
centauro Quirão. Esse mestre, que também educara
outros heróis, ensinou ao menino a medicina, a arte
da caça, a música e muito mais.

Quando os gregos preparavam a expedição para
punir Tróia, Tétis, assustada, já que sabia que o filho
teria vida breve se participasse da guerra, tentou
escondê-lo. Vestiu-o de mulher e o colocou entre as
filhas do rei de Ciros, uma ilha grega. Ali viveu cerca
de nove anos. Chegou a se casar, em segredo, com
uma das filhas do rei.

No entanto, Calcas, o adivinho do exército grego,
advertiu:

— Tróia não cairá se Aquiles não combater ao
nosso lado! Ele está escondido na ilha de Ciros.

Odisseu, então, sempre astuto, descobriu um
modo de fazer Aquiles revelar sua identidade
verdadeira e, assim, ser obrigado a partir para a guerra.

Disfarçou-se de mercador e se dirigiu até Ciros. Ao
exibir suas ricas mercadorias, percebeu que todas as
moças se interessavam pelas roupas, tecidos, jóias e
perfumes que trazia, menos uma; uma delas, apenas,
parecia indiferente a tudo aquilo. Mas ao descobrir, no
fundo de um dos cestos do mercador, armas reluzentes,
aquela moça, na verdade Aquiles, imediatamente as
pegou e manuseou com interesse. Outra versão da
história diz que Odisseu fez ressoar pelo palácio real
uma trombeta de guerra, fazendo todas as moças
fugirem correndo, assustadas; Aquiles, porém,
permaneceu onde estava e pediu armas para combater.

Seja como for, traiu-se, e Odisseu o conduziu para
junto do exército grego. Levava consigo, além de
companheiros de armas, duas pessoas que lhe eram
muito próximas: Fênix, um preceptor, homem já
velho, e Pátroclo, seu maior amigo.
tre.

Lutou bravamente ao lado dos outros gregos, sem
nunca ter visto a queda de Tróia. Quando morreu
Heitor, às mãos de Aquiles, as amazonas vieram em
socorro da cidade. O herói lutou com elas e matoulhes
a rainha, Pentesiléia, que combatia com o rosto
coberto. Ao receber o golpe mortal, o rosto da
amazona se descobriu. Frente a frente com a beleza
extraordinária das faces de Pentesiléia, quando ela já
desfalecia, Aquiles sentiu um misto de amor e
compaixão.

Dizem alguns que um outro amor ajudaria a
provocar sua morte. Apaixonado por uma das
cinqüenta filhas de Príamo, Políxena, marcou com
ela um encontro. Páris, irmão da moça, preparou-lhe
uma emboscada. Quando Aquiles chegou ao lugar
combinado, o troiano acertou-lhe o calcanhar com
uma flecha. Mas há quem diga que Aquiles morreu
no campo de batalha, ferido por uma flecha do deus
Apolo, que ordenara que ele se retirasse sem que o
jovem obedecesse. Naquele momento, Aquiles
conseguira chegar perto das muralhas troianas;
Apolo, então, guiou a flecha disparada por Páris até
o ponto fraco do grego.

Depois de lhe queimarem o corpo, os
companheiros puseram suas cinzas numa urna de
ouro, misturadas com a do amigo Pátroclo. Ao
permanecer lutando em Tróia, fizera sua escolha:
viver uma vida breve e gloriosa, ao invés de
envelhecer na terra natal, como um desconhecido
qualquer.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Guerra de Troia (Parte III)

A morte de Heitor


Após fazer as pazes com Agamêmnon, Aquiles
retornou ao campo de batalha, onde
guerreava com fúria. Rápido por causa de
seus pés ligeiros, parecia um corcel galopando a toda
velocidade ou uma estrela brilhando através da
planície. Tomado por um mau pressentimento, o rei
Príamo suplicou a seu filho Heitor que não o
enfrentasse. Hécuba, sua mãe, em lágrimas, fez-lhe a
mesma súplica. O troiano, porém, estava decidido a
não ceder ao apelo dos pais.

No entanto, quando Heitor avistou Aquiles, com
sua armadura de bronze brilhando como um fogo ou
o sol nascente, teve medo e fugiu. Aquiles voou atrás
dele, perseguindo-o sem descanso. Estava em jogo,
naquela corrida, a vida de Heitor. Assistiam a esse
espetáculo não só gregos e troianos mas também os
deuses; Zeus sentiu piedade do filho de Príamo.

Os heróis corriam sem que um conseguisse
alcançar o outro. O pai e rei dos deuses, então, pesou
numa balança de ouro os destinos dos dois: o
resultado indicou claramente que a vida do troiano
estava por um fio. Diante disso, Apolo, que até então
o vinha protegendo, abandonou-o.

Para precipitar a morte de Heitor, Atena se
transformou no mais querido dentre seus irmãos,
Deífobo, e o estimulou a ir ao encontro de Aquiles.

Heitor disse ao grego estas palavras:

— Não vou mais fugir. Dei três voltas ao redor
dos muros de Tróia sem ousar enfrentá-lo, mas agora
basta. Se eu vencer, devolverei seu corpo aos seus
companheiros e, se for você o vencedor, devolva
meu corpo aos meus.

— Não diga isso, maldito!, respondeu Aquiles.
Nunca poderemos ser amigos, assim como acontece
com o homem e o leão, com o lobo e o cordeiro, que
se odeiam. Você pagará pelos sofrimentos dos meus
companheiros mortos pela sua lança.

Depois destas palavras, Aquiles atirou a lança
contra Heitor. Como este se desviou, a arma foi se
fincar no chão. A própria Palas Atena a pegou de
volta e, sem ser vista pelo troiano, entregou-a a
Aquiles. Heitor, porém, atirou a sua contra o herói,
atingindo o centro de seu escudo. O troiano, irritado,
de repente percebeu que o falso Deífobo não estava
mais do seu lado; compreendendo que fora vítima
dos deuses, deu-se conta de que sua morte já estava
próxima. Resolveu morrer lutando: desembainhou a
espada e se precipitou contra Aquiles.

No entanto, o grego fere o pescoço de Heitor,
num ponto deixado descoberto pela armadura que o
troiano portava, a mesma que tomara de Pátroclo. Ao
vê-lo tombar na poeira, Aquiles lhe diz palavras
duras; Heitor ainda lhe dirige um pedido:

— Suplico-lhe, por seus pais, não deixe meu
corpo sem sepultura, não o entregue aos cães dos
gregos. Aceite resgate em troca dele e o devolva a
Tróia.

— Ah!, cão, deixe de súplicas. Nem se Príamo
quisesse comprar com ouro o seu corpo, eu o
entregaria. Cães e aves o devorarão, replica o grego.

Morto Heitor, Aquiles lhe furou os calcanhares,
passou por eles correias de couro, amarrou, pelos
pés, o corpo a seu carro e partiu em direção aos
navios gregos. Ao assistir a essa cena, a mulher de
Heitor, Andrômaca, depois de um desmaio,
chorando, pôs-se a lamentar a sorte do marido, dela
mesma e do filho pequeno de ambos, Astíanax. Tróia
toda acompanhava seu pranto.

Enquanto isso, também Aquiles chorava,
pensando em Pátroclo. E todos os dias, ao nascer do
sol, tomado de fúria, voltava a ligar o corpo de Heitor
a seu carro e dava três voltas em torno do túmulo do
amigo. Apolo, porém, encarregava-se de evitar que o
corpo do troiano se desfigurasse com o tratamento
que vinha recebendo. Até que, dez dias depois, o
deus, indignado, assim falou aos outros habitantes do
Olimpo:

— Cruéis! Por acaso Heitor não fazia sacrifícios
a todos vocês? E agora não querem salvar nem
mesmo seu corpo para que seus familiares possam
incinerá-lo, prestando-lhe
todas as homenagens?
Vocês querem é
ajudar Aquiles, que
tem no peito um coração
intratável, como
um leão feroz. O que
ele faz com o corpo de
Heitor não é nem belo
nem justo.

Mas Zeus, lembra:
-Aquiles cuida do ferimento de seu amigo
Pátroclo.
do dos sacrifícios que Heitor sempre lhe fazia, pôs
em prática um plano para fazer Aquiles entregar o
corpo do inimigo a seu pai. Chamou Tétis ao Olimpo
e encarregou-a de enviar a seu filho uma mensagem:

-os deuses estavam irritados com seu comportamento,
por isso ele deveria devolver o corpo de Heitor aos
troianos. Por outro lado, mandou Íris, a mensageira
divina, a Príamo, para estimular o velho rei a ir
oferecer presentes a Aquiles como resgate pelo corpo
do filho.

Ao ouvir as palavras de Zeus pela boca da mãe,
Aquiles se comprometeu a aceitar o resgate. Quanto
a Príamo, após receber o recado de Íris, consultou a
esposa, mas Hécuba lhe disse que não fosse ao
encontro daquele homem cruel; finalmente, o rei
resolveu ir mesmo
assim ao encontro do
grego. Levava-lhe,
entre outros presentes,
belíssimos mantos,
túnicas e moedas
de ouro. Zeus o viu
partindo e enviou o
deus Hermes para
protegê-lo no caminho.

Chegando à tenda
de Aquiles, Príamo o
encontrou ainda à
mesa; tinha acabado
de comer e beber.
Em atitude de quem suplica, segurou-lhe os joelhos e
beijou a mão que tinha matado tantos filhos seus.

Disse-lhe:

— Lembre-se, Aquiles, de seu pai, que tem a
mesma idade que eu. Ele se alegra por saber que
você está vivo e aguarda com ansiedade que seu filho
volte para casa. Mas a mim, não me restou nenhum
dos filhos de valor que gerei. Você matou o último,
Heitor, que protegia Tróia e seu povo. Venho resgatar
seu corpo, trazendo muitos presentes. Respeite os
deuses, Aquiles, e, pensando em seu velho pai, tenha
piedade de mim. Eu sou o mais infeliz dos mortais,
já que levo aos lábios a mão do homem que matou
meus filhos!

A essas palavras, Aquiles, pensando no pai e em
Pátroclo, chorou, acompanhando as lágrimas de
Príamo por Heitor. Finalmente, tomou a palavra:

— Infeliz, você sofreu muito em seu coração!
Deixemos ambos nossas dores encerradas no peito:
não se ganha nada com o pranto. Zeus distribui aos
homens bens e males, misturados. Suporte!
Chorando assim, não fará seu filho reviver mas
conseguirá apenas sofrer ainda mais.

Aquiles, então, mandou que as escravas lavassem
o corpo de Heitor e o untassem com óleo. Concluída
essa tarefa, colocaram-lhe uma túnica. O próprio
Aquiles o levantou e depositou no carro. Depois disso,
convidou Príamo a comer junto com ele. Príamo
observava, admirado, o grande e belo Aquiles, que
parecia um deus; Aquiles, por sua vez, admirava o
rosto nobre de Príamo.

Antes de irem dormir, o jovem prometeu ao velho
rei que haveria uma trégua para que ele e os seus
pudessem prestar as honras devidas ao corpo de
Heitor. Temendo por Príamo, que estava em campo
de inimigos, o deus Hermes veio a ele, incitou-o a
partir e guiou-o em direção a Tróia. Chegaram
quando a Aurora estendia seu manto sobre toda a
terra.

Dez dias depois, ardia na pira o corpo de Heitor.
Quando, no dia seguinte, a Aurora de dedos cor de
rosa despontou, a multidão se reuniu em torno dela
e prestou as últimas homenagens àquele homem que
tinha conseguido conter o avanço do inimigo por
tantos anos.

Este foi o fim de Heitor, o herói domador de
cavalos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Guerra de Tróia (Parte II)

A ira de Aquiles


No décimo ano do cerco à cidade de Tróia, os
gregos foram surpreendidos por uma terrível
peste, enviada pelas setas do deus Apolo. Os
animais foram os primeiros a serem atingidos, mas
logo a doença contaminava os homens, multiplicando
pelo acampamento as piras erguidas para
incinerar os mortos. Condoído pela sorte dos seus,
Aquiles reuniu o exército. Conhecedor do presente,
passado e futuro, o adivinho Calcas tomou a palavra
perante a assembléia dos gregos:

— Apolo está irritado com a ação de
Agamêmnon. Como todos sabem, o rei maltratou o
sacerdote do deus, quando este veio reclamar de
volta a filha Criseida, aprisionada e escravizada por
ele na cidade de Tebas da Mísia. Agamêmnon não
quis devolver a moça ao pai; enquanto isso não
ocorrer, Apolo nos infligirá dores sem conta.

Agamêmnon enfureceu-se com aquelas palavras,
mas comprometeu-se a restituir a sua presa de
guerra, desde que obtivesse uma compensação.

Suspeitando que o rei desejava tirar-lhe sua escrava
Briseida para substituir a filha do sacerdote, Aquiles
ferveu de indignação:

— Despudorado, cão, nós o seguimos até aqui
para que seu irmão Menelau se vingasse da afronta
dos troianos, e você ameaça tirar-me Briseida? Eu
lutei tanto para capturá-la! Vou retirar-me para a
minha cidade natal. Não quero ficar aqui, humilhado,
conquistando bens e riquezas só para você.

— Vá embora, então — replicou Agamêmnon. -
Você só aprecia disputas, guerras e batalhas. Já que
me levam Criseida, tomarei para mim a sua Briseida,
escrava de bela face, para que saiba como sou mais
poderoso do que você.

O filho de Peleu, Aquiles, ardeu de tamanho ódio
que chegou a pensar em matar o rei. Foi então que,
enviada por Hera, que queria proteger um e outro,
Palas Atena desceu à terra e puxou Aquiles pelos
cabelos loiros. Só o herói conseguia vê-la; perguntou-
lhe o que ela fazia por ali.

— Vim para acalmar sua ira, disse Palas Atena, a
deusa de olhos azuis. Não use a espada contra o rei,
mas o maltrate apenas com as palavras. Um dia, por
causa da violência que estão fazendo a você, esses
mesmos homens lhe
darão o triplo de
bens. Por isso, contenha
seu ódio e obedeça!

Aquiles, então, obedecendo,
desistiu de
usar a espada, mas
cobriu o rei com pesados
insultos; Agamêmnon
replicou com a
mesma dureza. Permaneceram
os dois
cada qual em sua
posição, uma disputa que seria prejudicial aos
gregos. Após a dissolução da assembléia, Aquiles
retirou-se para sua tenda, acompanhado do fiel
amigo Pátroclo e de outros companheiros. Cruzava
os braços, deixando o exército grego entregue à
própria sorte. Pouco depois, vieram buscar a sua
escrava Briseida, que o herói deixou partir.

Sozinho à beira-mar, Aquiles chorava e invocava
a mãe, a deusa Tétis, de pés argênteos. Queixava-se
de não receber a honra que os deuses lhe prometeram
em sua breve vida. Surgindo dos abismos do mar
como uma névoa, a deusa acariciou o filho e, ao
saber o motivo daquele pranto, prometeu-lhe
queixar-se pessoalmente a Zeus de uma tal afronta.

Doze dias depois, quando o supremo rei e pai dos
deuses retornou de uma viagem à África, Tétis,
abraçada a seus joelhos, como era costume quando se
suplicava a alguém, falou-lhe assim:

— Zeus pai, se eu, entre os imortais, alguma vez
te ajudei, atende à minha súplica: concede honra a
meu filho, destinado a uma morte precoce. Dá vitória
e glória aos troianos enquanto os gregos não
atribuírem a ele as honras devidas.

Apesar de temer a ira da esposa Hera, que apoiava
os gregos, Zeus comprometeu-se a atender ao
pedido, franzindo as sobrancelhas num sinal de
aprovação; seus cabelos de ambrosia se agitaram e
todo o Olimpo tremeu.

Dias de derrotas se sucederam para os gregos, que
sentiram na pele a falta que fazia Aquiles, o herói de
pés ligeiros. Sempre mais desconsolados a cada dia
que passava, os gregos resolveram enviar uma
embaixada de conciliação à tenda do herói. Mas
Aquiles recusou os ricos presentes que lhe traziam e,
dentre muitas outras palavras, proferiu estas:

— Minha mãe Tétis disse-me que o destino me
reservava uma escolha: se eu permanecer em Tróia,
combatendo, morrerei conquistando grande glória,
mas se eu voltar para casa, terei uma vida longa,
ainda que sem glória. Voltem, vocês todos, pois não
verão jamais o fim da cidade de Príamo. Amanhã
decidirei se voltarei para casa ou permanecerei aqui.

Acumulavam-se os sofrimentos dos gregos.
Pátroclo, então, o grande companheiro de Aquiles,
pediu-lhe que, ao menos, permitisse que ele usasse
sua armadura e suas armas para ir em ajuda aos
companheiros. Aquiles consentiu.

No campo de batalha, Pátroclo faz grande
carnificina entre os inimigos troianos, mas Apolo
intervém. Dissimulado em uma densa névoa, o deus
chega perto de Pátroclo, golpeia-o na espinha e nos
ombros e derruba o elmo de sua cabeça. Heitor,
então, o maior dentre os guerreiros troianos, passaria
a usar aquele capacete que outrora protegia Aquiles e
jamais tinha caído ao chão antes daquele momento.

Apolo continua a agir sobre Pátroclo; rompem-se
a lança e o cinturão que o herói trazia consigo; cai
por terra o seu escudo, e o deus ainda lhe tira a
couraça. O herói pára, completamente aturdido. Um
troiano de nome Euforbo o fere, enterrando uma
lança nos seus ombros. Heitor, percebendo que
Pátroclo está ferido e procura se salvar retirando-se
da batalha, fere-o com uma lança no ventre. O
troiano parecia um leão vitorioso depois de disputar
com um javali indomável a posse de uma mina de
água. Diz Heitor:

— Pátroclo, você estava certo que iria tomar de
assalto a nossa cidade e escravizar as mulheres
troianas. Tolo! Os abutres o devorarão! Aquiles não
poderá mais proteger você.

Mas Pátroclo ainda teve forças para responder:

— Isso mesmo, Heitor, você se vangloria com
uma vitória que Apolo e Zeus lhe deram; mas foram
os deuses que tiraram minhas armas. Mas ouça bem
o que tenho a lhe dizer: Você não irá muito longe;
logo virão ao seu encontro a morte e o destino
invencível. Morrerá às mãos de Aquiles.

Depois de assim falar, a alma lhe voou dos
membros e desceu ao reino dos mortos, o sombrio
Hades, lamentando sua sorte, já que deixava um
corpo há pouco cheio de vigor e juventude. Heitor
dirigiu ao morto estas palavras:

— Pátroclo, por que me prediz terrível destino?
Talvez Aquiles me preceda, ferido pela minha lança.

Então o troiano arrancou a sua arma do corpo do grego
e pisou-o.

Foram levar a notícia a Aquiles, que naquele
momento tinha o coração inquieto e a mente cheia de
receios. Já pressentia a morte do companheiro. Ao
receber a confirmação de suas suspeitas, o herói
demonstrou sua aflição: cobriu de cinzas o rosto e a
veste e caiu por terra arrancando os cabelos. Chorava
e gritava desconsolado.

Aninfa Tétis ouviu os lamentos do filho e gemeu;
todas as ninfas do mar acompanharam sua dor e
choraram. A mãe foi consolar Aquiles, que se sentia
culpado pela morte do amigo e pretendia voltar ao
combate para vingar a morte de Pátroclo.

Tétis prometeu ao filho novas armas, já que as
dele haviam sido tiradas do corpo de Pátroclo e agora
pertenciam a Heitor. A promessa logo se cumpriu. A
pedido da ninfa, armas novas foram fabricadas pelo
deus ferreiro, Hefesto. Chamava a atenção,
sobretudo, um grande escudo em que o deus
representara a terra, o mar, o céu com seus astros,
além de cidades e campos. Quando a Aurora do dia
seguinte despontou, trazendo a luz aos mortais e
imortais, Tétis levou ao filho as armas fabricadas por
Hefesto. Encontrou-o chorando, abraçado ao corpo
do amigo.

Aquiles, então, dirigiu-se a Agamêmnon e disse-lhe
que desistia de sua ira; pediu-lhe que esquecesse
a disputa que os tinha separado. O rei, por sua vez,
devolveu-lhe Briseida e confirmou que lhe daria
todos os presentes prometidos quando da embaixada
à tenda do herói. Estava selada a reconciliação, para
desgraça dos troianos. Aira de Aquiles iria ter, agora,
outro alvo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Guerra de Tróia

As origens da guerra de Tróia


Um dia, Hécuba, a esposa do rei de Tróia, teve
um sonho pavoroso; ela, que estava grávida e
em breve daria à luz, acordou de repente no
meio da noite. Logo contou a seu marido Príamo o
pesadelo: sonhara que o filho esperado finalmente
parecia querer sair de seu ventre, mas, ao invés de
uma criança, paria uma tocha. O mais inquietante era
que o fogo acabava por se espalhar pela cidade
inteira, consumindo tudo. O rei tentou em vão
acalmá-la e minimizar aqueles terríveis presságios;
por fim, para não restar dúvidas, dirigiu-se a um de
seus filhos, que sabia como ninguém a arte de
interpretar os sonhos. A resposta que os pais
receberam foi uma horrível notícia e um conselho
tétrico:

— Vai nascer uma criança que causará a ruína de
Tróia! Matem-na assim que nascer!

Pode-se imaginar como o prognóstico destruiu a
tranqüilidade de Príamo e de Hécuba. A criança
finalmente nasceu, Páris, um belo menino, robusto e
de traços encantadores. Que cegueira a dos homens!:
contando de acordo com as luas, segundo um velho
costume, levara dez meses o nascimento de Páris,
assim como dez anos levaria o cerco de Tróia,
terminando com o espantoso parto de guerreiros de
um cavalo de madeira!

Mas Hécuba, mãe, não aceitava a idéia de ver
morto aquele filho e conseguiu fazer com que o
menino fosse abandonado no Ida, uma cadeia de
montanhas e bosques onde certamente ele não
poderia sobreviver. Assim, Páris certamente
morreria, para salvação de toda uma cidade, mas de
uma maneira menos chocante para os pais.

De repente, porém, um acaso muda o curso dos
acontecimentos. Naquele mundo em que os homens
sentiam sempre os deuses se manifestando e
participando dos acontecimentos
cotidianos, era
difícil não ver aí mãos
divinas, precipitando a
ação humana para cumprir
um plano arquitetado
nas alturas. Pastores
encontraram a
criança desprotegida e
destinada à morte e a
recolheram e criaram
como se fosse o filho de
um deles. Prodígio inacreditável:
fora salva da
fome graças a uma ursa,
que foi vista a seu lado
amamentando-o...

Com o passar do tempo, aquele menino cresceu
robusto e se tornou um jovem de valor, que defendia
os rebanhos dos pastores contra o ataque dos ladrões
e das feras. Chamaram-no, então, Alexandre, isto é,
em grego, “o protetor dos homens”. E um belo dia o
jovem voltou para Tróia e revelou quem era, para
surpresa de todo mundo, já que os súditos de Príamo
estavam acostumados a participar anualmente dos
jogos que o pai celebrava em memória do filho
supostamente morto quando criança.

Príamo e sua esposa o receberam muito bem e,
esquecidos daquela profecia sinistra, cumularam
Páris de tudo a que tinha direito o filho de um rei.

Não podiam imaginar o que o Destino já havia
tramado durante a permanência de Páris-Alexandre
entre os pastores do Ida!

Nas montanhas, um dia, Páris tivera de assumir o
papel de juiz num dos julgamentos mais difíceis que
e possa conceber. Tudo começou com Éris, a deusa
Discórdia. Era um monstro horrível de ver, com
serpentes ao invés de cabelos, os olhos em brasa e a
roupa ensangüentada. Estava sempre pronta a lançar
deuses contra deuses, homens contra homens, deuses
contra homens, em suma, a infelicitar a vida de
mortais e imortais com suas intrigas. Um dia, durante
as bodas de Peleu e da ninfa Tétis, os futuros pais do
grande Aquiles, a Discórdia, enraivecida por não ter
sido convidada para a festa, lançou entre as deusas
Hera, Palas Atena e Afrodite, uma maçã de ouro, com
uma inscrição: “À mais bela”.

Uma simples frase causou a maior confusão,
especialmente entre as três belíssimas deusas, que
disputavam acirradamente o título de a mais
formosa. Zeus, desejando pôr fim à discussão,
decidiu organizar uma espécie de concurso de beleza
entre as três rivais. Talvez para evitar ciumeiras e
proteções entre os imortais, determinou que o juiz
seria um ser humano, ninguém menos do que o
também formoso pastor Alexandre-Páris! Mas, com
um mortal falível e divindades dispostas a tudo para
satisfazer a vaidade e não macular a reputação,
aquela disputa não seria das mais imparciais... Cada
uma das deusas prometeu algo ao juiz:

— Você reinará sobre toda a rica Ásia, se me
escolher, -  disse Hera, que era casada com o supremo
rei do Olimpo, Zeus.

— Dê-me seu voto e será o mais sábio dos
homens e vencerá todas as batalhas de que participar. -
prometeu, majestosa, Palas Atena, a mais sábia e a
mais guerreira dentre as deusas.

Mas foi a dourada Afrodite, com seu sorriso cheio
de encantos e seus olhos brilhantes, seu doce
perfume e seus gestos delicados, que seduziu o
pastor, tanto mais que prometeu algo equiparável à
maravilha que ele tinha diante de seus olhos:

— A mais bela das mortais, a grega Helena,
mulher de Menelau, compartilhará do seu leito, disse
a deusa do desejo amoroso, sempre doce e amarga ao
mesmo tempo, como costuma ser o amor.

Terminou com a vitória de Afrodite aquele
julgamento, mas não a guerra das deusas nem as suas
conseqüências — pelo contrário, ali Tróia começava
a caminhar para a ruína última e definitiva. O pomo
dourado da Discórdia arruinaria a cidade de Príamo
e levaria a gregos e troianos muitas desgraças,
lágrimas e dores sem conta. As deusas perdedoras,
Hera e Palas Atena, ajudariam, na medida de suas
forças, os inimigos dos troianos na longa guerra entre
exércitos da Europa e da Ásia.

Um dia Páris, acompanhado de um de seus
irmãos, viajou para a cidade de Esparta, pátria de
Menelau, com o objetivo de raptar-lhe a esposa, que
deveria ser sua, segundo a promessa de Afrodite. Foi
recebido com uma hospitalidade digna dos gregos,
numa recepção que unia anfitrião e hóspede em
fortes laços de direitos e deveres mútuos. O marido,
que de nada desconfiava, teve, pouco depois, de
viajar para a ilha de Creta e, acreditando no pacto de
hospitalidade, deixou sua própria esposa encarregada
de tratar bem os troianos.

Helena, diante daquele jovem ainda mais belo por
obra de Afrodite, apaixonou-se e, sabendo dos planos
de Páris, longe de precisar ser levada à força,
resolveu com ele fugir levando seus tesouros. Foi
bem recebida pelo rei Príamo, que não podia
imaginar que desgraça acolhia em seus muros junto
com aquela mulher que a todos encantava. No futuro,
também um cavalo de madeira seria recebido com
alegria e dele nasceria um rastro de destruição e
morte.

Ao saber do que ocorrera, Menelau reclama de
Tróia a esposa, em vão. Furioso e decidido a se
vingar, conclama todos os seus aliados a marchar
contra a cidade, sob o comando de seu irmão
Agamêmnon.

Naquele exército, iam heróis que o mundo jamais
esqueceria: o jovem e impetuoso Aquiles, o arguto
Odisseu, ou Ulisses, tão hábil na ação quanto nas
palavras, e tantos outros. Tróia, também chamada
Ílion, assistiria a dez anos de batalhas em que
combateriam os mais notáveis dentre os gregos e os
troianos, em duelos que tinham muitas vezes alguma
participação divina. Poetas e artistas praticamente do
mundo todo, e em quase todas as épocas,
recordariam inúmeras vezes aquele conflito terrível
entre Europa e Ásia, que até hoje atiça a nossa
imaginação.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A História de Teseu

A história de Teseu e das aventuras extraordinárias vividas por esse herói constituem algumas das mais interessantes páginas da Mitologia grega.
Nascido em Trezendo e educado por Etra, sua mãe, desde muito pequeno Teseu revelou grande valor e coragem. Contava apenas sete anos de idade, quando Hércules, que ele tomaria como modelo, foi visitar a sua cidade, sendo recebido com especiais homenagens, inclusive um grande banquete.

Para ficar instalado com mais conforto à mesa do festim, Hércules despiu a pele de leão com que habitualmente se cobria, deixando-a no chão. As crianças, muito naturalmente, sentiam-se atraídas pela figura do gigante sobre o qual tanta coisa se falava, e aproximavam-se, desejosas de contemplar de perto o grande homem.

Deparando com a pele de leão, assustavam-se e fugiam.

Teseu, porém, não imitou os seus companheiros. Convencido de estar diante de um leão de verdade, um leão vivo, arrancou a clave de um escravo que se encontrava próximo e marchou, decidido, contra a "fera"...

A coragem e a decisão da criança provocaram aplausos e Hércules vaticinou-lhe um brilhante futuro. Ao atingir a adolescência, armado com uma espada que fora de seu pai, Teseu transportou-se a Atenas, de cujo trono era herdeiro, na sua qualidade de filho de Egeu.

Entendeu ele, porém, que antes de dar-se a conhecer e reclamar o poder, deveria fazer-se digno de tão alta honraria, realizando trabalhos que o dignificassem e causassem admiração aos seus contemporâneos. Começou para ele, então, uma fase de grandes aventuras. A primeira teve por cenário a Ática, que estava infestada por terríveis bandidos chefiados por um certo Silis ou Cercion — homem de grande força e maior crueldade.

Para dar uma idéia da poderosa força do bandido é bastante dizer que ele estraçalhava com as mãos as mais fortes feras da floresta e fazia vergar o tronco das árvores. Aliás uma das principais "distrações" do cruel bandido, ao dobrar as árvores, era amarrar nas copas das mesmas os seus inimigos e, em seguida, soltar, repentinamente a árvore, despedaçando, assim, o infeliz que se encontrava amarrado no topo.

Teseu procurou o bandido, deu-lhe combate e sem maiores dificuldades, matou-o. Teve, então, que isolar-se, a fim de purificar-se do sangue que derramara, para o que realizou grandes sacrifícios diante do altar de Zeus.

Quando se considerou limpo daquele sangue imundo, o herói demandou a cidade de Atenas onde a confusão era geral. A cidade estava sendo governada, em nome de Egeu, por uma feiticeira chamada Medéia, que, sabedora da sua presença, planejou envenená-lo, ou melhor, concebeu o sinistro projeto de fazer com que fosse envenenado pelo próprio pai. Para isso convenceu Egeu, que não podia saber que o jovem era seu filho, pois não o via há muito tempo, a convidar o moço para um dos banquetes que comumente oferecia.

Quando Teseu ia levar aos lábios a taça em que se encontrava vinho envenenado, algo de imprevisto aconteceu. Egeu reconheceu a espada que Teseu trazia. Só poderia ser seu filho quem a portava. Num gesto rápido, afastou do moço a taça fatal e, furioso, expulsou Medéia da cidade, ordenando-lhe que nunca mais aparecesse, sob pena de ser morta.

Mas o Rei Egeu tinha um irmão, chamado Palas, que possuía vários filhos. Sentiu-se, ele, prejudicado pela presença de Teseu, que fazia ruir os belos planos que vinha arquitetando para apoderar-se do governo da cidade.

Por isso planejou uma conspiração destinada a perder definitivamente o jovem Teseu. Mas o plano foi descoberto e Teseu matou Palas e seus filhos. Teve, então, segundo o costume da época, de afastar-se de Atenas durante um ano, findo o qual regressou para ser julgado pelo tribunal que se reunia no templo de Apolo.

Os juizes estudaram o procedimento de Teseu, as circunstâncias, os fatos, as conseqüências e absolveram o jovem. Por esse tempo Atenas vivia torturada pelo pesado tributo em vidas humanas que se via obrigada a pagar a Minos, rei de Creta.

O caso é que um filho de Minos, Androgeu, que fora a Atenas participar de certos jogos, vencendo-os, despertara a inveja e o ciúme de muitos jovens atenienses que, despeitados, o assassinaram. Minos, muito naturalmente, ficou indignado com o fato, resolvendo impor aos atenienses um severo castigo.

Eles deveriam, cada ano, enviar sete rapazes e sete moças, escolhidos mediante sorteio, para alimentarem o Minotauro — furioso animal, metade homem, metade touro — que vivia encerrado no Labirinto.

Esse Labirinto, um dos caprichos do Rei Minos, era um estranho palácio repleto de corredores, curvas, caminhos e encruzilhadas, onde uma pessoa se perdia, jamais conseguindo encontrar a saída depois de transpor a sua entrada. Era aí que ficava encerrado o terrível Minotauro, que espumava e bramia, jamais se fartando de carne humana.

Havia três anos que Atenas pagava o pesado tributo e suas melhores famílias choravam a perda de seus filhos. Teseu resolveu preparar-se para enfrentar o monstro, oferecendo sacrifícios aos deuses e indo consultar o oráculo de Delfos. Invocado o deus, a pitonisa informou a Teseu que ele resolveria o caso desde que fosse amparado pelo amor...

- Eu vou, meu pai. Só eu posso dar fim a esse horror!


Cansado dessas mortes inúteis, Teseu resolve tomar o lugar de uma das vítimas e, se puder, matar a terrível criatura. Egeu acaba cedendo:


– Então, vá. Mas, se você voltar são e salvo, troque a vela negra do navio por uma branca. Assim, vendo o barco, eu já de longe fico sabendo que você está vivo.

Teseu promete obedecer ao pai e embarca para Creta.

Encorajado, Teseu fêz-se incluir entre os jovens que deveriam partir na próxima leva de "carne para o Minotauro". Ao chegar a Creta adquiriu a certeza de que sairia vitorioso, pois a profecia do oráculo começou a realizar-se.

Quando chegou à Creta, Minos ridicularizou a sua afirmação de ser filho de Poseidon, e desafiou-o a recobrar um anel atirado ao mar. Teseu recebeu das ninfas do mar não apenas o anel, mas também a coroa dourada de Tétis.

Durante toda a noite, Teseu esforça-se para tranqüilizar seus companheiros. De repente, anunciam ao jovem príncipe ateniense que alguém quer falar com ele. Muito surpreso, Teseu vê entrar uma bela moça, que ele já viu ao lado do trono de Minos. Ela lhe diz:


– Jovem estrangeiro, eu me chamo Ariadne e sou a filha do rei Minos. Quando vi seu ar decidido, compreendi que você veio para matar o Minotauro. Mas será que já pensou numa coisa? Mesmo que mate o monstro, nunca vai conseguir sair do Labirinto...

Teseu fica confuso, pois Ariadne tem razão. Ele não pensou nesse problema!

Percebendo o constrangimento do rapaz, ela acrescenta:

– Desde que o vi, fiquei interessada por você. Estou disposta a ajudá-lo se, depois, você se casar comigo e me levar para Atenas.

Assim fica combinado.

Com efeito, a linda Ariadne, filha do poderoso Minos, apaixonou-se por Teseu e combinou com ele um meio de encontrar a saída do terrível labirinto. Um meio bastante simples: apenas um novelo de lã, e lhe deu uma espada para que ele matasse o Miotauro.


Ariadne ficaria à entrada do palácio, segurando o novelo que Teseu iria desenrolando à medida que fosse avançando pelo labirinto. Para voltar ao ponto de partida, teria, apenas, que ir seguindo o fio que Ariadne seguraria firmemente. Estava resolvido, pois, um dos mais graves problemas da empresa e, resoluto, Teseu avançou.

Cheio de coragem penetrou nos sombrios corredores do soturno labirinto. A fera, mal pressentiu a chegada do moço, avançou, furiosa, fazendo tremer todo o palácio com a sua cólera. Calmo e sereno, Teseu esperou a sua arremetida. E então, de um só golpe, decepou-lhe a cabeça com a espada que Ariadne lhe deu.

Quando fica sabendo do que aconteceu, o rei Minos enfurece-se e ordena à frota que impeça a fuga. Os navios que ainda estão em condições de navegar tentam bloquear o barco grego, e começa uma batalha naval. Mas, com o cair da noite, Teseu aproveita-se da escuridão e consegue escapar esgueirando-se entre as naus inimigas.


Vitorioso, Teseu partiu de Creta, levando em sua companhia a doce e linda Ariadne, regressando a Atenas.
Alguns dias depois, o navio chega à ilha de Naxo. Teseu resolve fazer uma escala para reabastecimento. Vaidoso com a vitória, só tem um pensamento na cabeça: a glória que encontrará em Atenas. Imaginando sua volta triunfal, os gritos de alegria e de reconhecimento da multidão que virá aclamá-lo, apressa-se em partir. Dá ordem de levantar âncora, esquecendo Ariadne, que fica adormecida na praia.

Quando desperta, a princesa vê o navio já ao longe, quase desaparecendo no horizonte. Só lhe resta lamentar sua triste sina.
Bem, essa parte sa história é contada de diferentes maneiras. Uma das versões diz que Teseu abandonou Ariadne por ondem da deusa Athena. Ela dormiu e ele foi embora sem ela, mas o deus Dionísio a encontrou e a confortou, e dela se enamorou, fazendo-a chefe das suas seguidoras. A outra versão é bem mais favorável a Teseu. Ariadne estava com muito enjôo por causa do movimento do mar, e ele a deixou na beira da praia para que ela pudesse se recuperar, enquanto voltou ao barco para fazer alguns reparos. Um vento muito violento carregou o barco para o mar e o manteve lá por bastante tempo. Quando Teseu voltou, encontrou Ariadne morta, e ficou completamente desesperado.


Enquanto isso, Teseu aproxima-se de Atenas. Está tão entretido com seus sonhos de glória que também esquece de, conforme prometeu ao pai, trocar a vela negra por uma branca.
Desde a partida do filho, o velho Egeu não teve um único momento de repouso. Todos os dias, subia à Acrópole e ficava olhando as ondas, esperando avistar o navio com a vela branca. Pobre Egeu! Quando o barco enfim aparece, está com a vela preta. Certo de que Teseu está morto, o rei desespera-se e quer morrer também. Joga-se ao mar e afoga-se. Por isso, desde esse tempo o grande mar que banha a Grécia chama-se mar Egeu.

Dizem que durante o seu reinado ele unificou a Ática, e criou leis para as três classes de proprietários de terras, agricultores e artesãos. Ficou famoso pela sua proteção aos servos e escravos espezinhados, para quem o seu túmulo continuou sendo um santuário ao longo da História. Pirítoo, rei dos Lápitas, pilhou o seu gado, como um desafio, mas os jovens guerreiros simpatizaram um com o outro, no campo de batalha, e juraram amizade eterna. Teseu tomou parte na Caçada ao Javalí da Caledônia, e na batalha dos Pápitas e dos centauros, e dizem que emulou os feitos de Héracles (Hércules). Numa incursão contra as amazonas, raptou Hipólita, a rainha. Mais tarde, como vingança, o povo dela invadiu a Ática; mas Hipólita foi para o campo de batalha ao lado de Teseu e morreu com uma flechada. Antes disso, contudo, tivera dele um filho, Hipólito.


Após a morte dela, Teseu mandou buscar a filha mais moça do rei Minos, Fedra, e casou-se com ela. A esta altura Hipólito já era um jovem belo e forte, dedicado à equitação e ao casto culto de Ártemis, a divindade tutelar de sua mãe. Não demorou para que Fedra se apaixonasse desesperadamente por ele, e enviasse a sua velha ama para relatar ao jovem a sua paixão. Após a recusa chocada de Hipólito, ela se enforcou, deixando uma carta em que o acusava de estuprá-la. Teseu, convencido da versão da mulher pela sua morte, expulsou o filho de casa e invocou a maldição mortal confiada a ele por seu pai, Poseidon. Enquanto Hipólito guiava o seu coche pela estrada rochosa do litoral, o deus enviou uma onda gigantesca, carregando na crista um touro-marinho, que fez estourar os cavalos. O corpo esmagado de Hipólito foi devolvido a Teseu, que só viera a saber da verdade tarde demais.

Daí por diante, a sorte de Teseu o abandonou.Ao lado do amigo Pirítoo, raptou Helena de Esparta, mais tarde resgatada por seus irmãos Castor e Pólux. Enquanto ajudava Pirítoo na tentativa de rapto de Perséfone, ficou confinado no submundo, em sofrimento, durante quatro anos, ao fim dos quais Héracles o libertou. Ao voltar para Atenas, encontrou-a mergulhada na desordem e na sedição. Não conseguindo restabelecer a lei na cidade, amaldiçoou-a e partiu para Creta. No caminho, parou em Ciros, onde, atraiçoado por seu anfitrião, caiu ao mar do alto de um penhasco."


Depois de sua morte, porém, os atenienses, arrependidos, foram a Ciros buscar suas cinzas e ergueram-lhe um templo magnífico.

Este Mito, que tem sido objeto de investigações dos historiadores, parece indicar que Atenas, durante muito tempo, esteve dominada pelos reis de Creta, que lhe exigiam pesados tributos. O episódio de Teseu e do Minotauro deve indicar uma revolução que libertou os atenienses.

Escavações realizadas na ilha de Creta, no início do século, revelaram a existência de um grande palácio provido de imensos corredores que lembravam um labirinto. Por outro lado, afirmam os especialistas que existem elementos que permitem dizer que os reis de Creta usavam, em certas festas e cerimônias religiosas, máscaras representando cabeças de touros...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Teseu e o Minotauro, Dédalo e Ícaro

Na ilha de Creta reinava Minos. Um dia,
Possêidon enviou-lhe, surgido do mar, um
touro, que o rei lhe deveria sacrificar. Minos,
porém, guardou para si o animal. Aesposa de Minos,
Pasífae, apaixonou-se pelo animal. Essa paixão deve
ter sido uma vingança de Possêidon, o rei do mar, ou
de Afrodite, a deusa do amor, de cujo culto a rainha
tinha descuidado.

Vivia em Creta um célebre arquiteto, escultor e
inventor, Dédalo. Foi esse homem quem construiu
para Pasífae uma novilha de bronze, oca, para que a
rainha, pondo-se em seu interior, pudesse atrair o
touro. Assim Pasífae se uniu àquele animal. Da união
nasceria um monstruoso homem com cabeça de
touro — o Minotauro.

Quando nasceu o filho de Pasífae e do touro,
Minos, envergonhado, fez com que Dédalo
construísse um labirinto para aí deixar aquela criança
monstruosa. Com seus inúmeros corredores, salas e
galerias, criados de maneira a fazer perder a direção
e confundir até o mais astuto dos homens, o labirinto
só era dominado pelo próprio Dédalo: quem ali
entrasse, não conseguiria mais sair.

Com o passar dos anos, o Minotauro foi
crescendo no labirinto, longe dos olhares das
pessoas. Ora, Minos, tendo derrotado os atenienses
em batalha, exigiu deles um tributo sinistro: todos os
anos, Atenas deveria enviar sete rapazes e sete moças
para serem devorados pelo Minotauro. Pode-se
imaginar o terror que deveria se apossar de quem,
perdido na confusão dos caminhos tortuosos, sentia
aproximar-se de si aquela criatura grotesca que
habitava o labirinto... Disposto a pôr um fim a essa
situação, o herói ateniense Teseu foi um dia a Creta,
junto com os outros jovens destinados à morte certa.
Quando Teseu chegou à ilha, Ariadne, filha de
Minos e Pasífae, apaixonou-se pelo jovem.

Desejando salvá-lo da morte no labirinto, a moça lhe
deu um novelo com um fio: Teseu deveria desenrolálo
à medida que penetrasse naquele emaranhado.

Quem tivera a idéia fora Dédalo. Foi assim que o
herói, depois de matar o Minotauro, encontrou
facilmente a saída, seguindo o caminho criado pelo
fio de Ariadne.

Ao saber do que ocorrera, Minos, enfurecido,
aprisionou Dédalo e seu filho Ícaro no labirinto, pois
julgava que o arquiteto tinha sido cúmplice daquela
traição. Haveria de ser a morte para os dois, se
Dédalo, sempre astucioso e inventivo, não tivesse
encontrado um meio de escapar. Fez, com penas de
aves coladas com cera, um par de asas para si e outro
para o filho.

Antes de saírem por uma das altas janelas do
labirinto, Dédalo fez uma recomendação a Ícaro.

Que ele, sob hipótese alguma, se aproximasse do sol;
deveria voar nem muito alto nem muito baixo, entre
o céu e a terra. Partiram.

Mas Ícaro não obedeceu ao conselho paterno.

Chegando demasiado perto do sol, a cera das asas
derreteu, e as penas dispersaram-se nos ares. De
repente o moço se viu agitando braços nus.

Chamando em vão pelo pai, Ícaro caiu nas águas
azuis do mar Egeu

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Orfeu e Eurídice

Fugindo de um homem que a perseguia, a ninfa
Eurídice pisou numa serpente venenosa oculta
na relva.
O réptil a picou no calcanhar, e ela
desceu ao reino dos mortos, deixando inconsolável
seu marido.
Orfeu, poeta, músico e cantor, sempre
empunhando a lira ou a cítara, era um artista
insuperável. Com seu canto, os animais ferozes se
tornavam pacíficos e o seguiam, as rochas se
moviam, as árvores inclinavam as copas em sua
direção, os homens se acalmavam. Mas a dor pela
perda da esposa foi tal que ele, fugindo do convívio
humano, na solidão, só conseguia pensar em
Eurídice. Sua música, agora triste, só cantava o amor
por Eurídice.

 Por fim, resolveu descer ao sombrio
Hades para tentar trazê-la de volta.
Em meio às sombras e deuses das regiões
subterrâneas, Orfeu fez ecoar a música de sua lira.
Nos Infernos, Sísifo tinha sido condenado a rolar
montanha acima uma pedra que, no alto, voltava a
cair, obrigando-o a recomeçar a tarefa eternamente.
Mas, com aquela música, como que por encanto a
pedra de repente ficou parada, sem ninguém a
segurar. Tântalo, como punição dos deuses, sedento
e faminto, tinha sempre diante de si água e comida,
que, porém, nunca conseguia alcançar. Mas, ao som
da lira de Orfeu, esqueceu-se da fome e sede eterna.
As Danaides tentavam encher de água um tonel
furado; a música encantadora as fez descuidar da
tarefa ingrata. Cantando o amor a Eurídice e a perda
da esposa, comoveu a todos os habitantes do mundo
infernal. Até mesmo de Hades, que tinha um coração
de ferro, arrancou lágrimas.
Hades e Perséfone, os deuses infernais,
concederam, então, que Orfeu levasse Eurídice de
volta à vida, com uma condição: na ida em direção à
luz do dia, ele não deveria, de maneira nenhuma,
olhar para trás antes de deixar o mundo das sombras.
Eis que Eurídice acompanha silenciosa Orfeu, rumo
à superfície da terra. Vão regressando daquelas regiões
escuras, povoadas pelas sombras dos mortos. Percorrem
um caminho abrupto, em meio a trevas e uma névoa
espessa. E a luz já se aproximava, quando, tomado de
intenso amor e esquecido da condição que lhe
impuseram, Orfeu resolveu olhar para a sua Eurídice...
Ouve-se um estrondo espantoso, e Eurídice diz ao
esposo:

— Que loucura foi essa que perdeu a mim e a ti,
Orfeu? Já de novo os destinos cruéis me chamam e o
sono começa a cerrar meus olhos. É hora de dizer-te
adeus. A noite imensa me circunda e ergo em vão
para ti as minhas mãos enfraquecidas.

Disse isso e desapareceu como fumaça nos ares.
Orfeu ficou desesperado, pois sabia que sua música
não poderia dobrar os deuses infernais: eles jamais
se abrandavam com as súplicas humanas. Era
impossível lutar contra suas duras leis.
Por todo o resto de seus dias, sem descanso, sem
trégua à dor, Orfeu cantou o amor por Eurídice, que
perdera para sempre num descuido fatal.

domingo, 2 de maio de 2010

Faetonte e o carro do Sol

O jovem Faetonte, criado pela mãe, desconhecia quem fosse seu pai. Um dia, ela lhe contou
quem ele era: o Sol. Desejando comprovar se a revelação era verdadeira, Faetonte foi até a morada
daquele astro, um palácio brilhante de ouro, prata e marfim. Depois de narrar o acontecido, disse-lhe:

— Ó luz do mundo imenso, se minha mãe não
está mentindo, dê-me uma prova de que sou mesmo
seu filho! Acabe de uma vez com essa minha dúvida!

O Sol tirou da cabeça os raios que brilhavam para poder abraçar o filho. Depois de tê-lo abraçado,
disse:

— Para que não tenha dúvida de que sou seu pai,
peça o que quiser, e eu lhe darei. Juro pelo rio dos
Infernos, o Estige. Esse é o juramento que obriga os
deuses a cumprirem sua palavra.

Faetonte, então, pede ao pai que lhe deixe guiar seu carro, que era puxado por cavalos alados.
O pai se arrependeu da promessa, mas não podia voltar atrás. Tentou fazer o filho desistir da idéia:

— Você é um mortal e o que está pedindo não é
para mortais. Só eu posso dirigir o carro que leva o
fogo do céu. Nem Zeus poderia fazer isso. Que
espera encontrar nos caminhos do céu? Você passará
por muitos perigos: os chifres da constelação de
Touro, o arco de Sagitário, a boca do Leão. Além
disso, há os cavalos, difíceis de domar, soltando fogo

pela boca e pelas ventas. Peça outra coisa, filho, e
se mostre mais sensato nos seus desejos.

Mas Faetonte não queria ouvir os conselhos do pai, que foi obrigado a satisfazer àquele pedido.
Levou o rapaz ao carro. Era todo feito de ouro, prata e pedras
preciosas. Faetonte olhou-o cheio de admiração.
Eis que no Oriente a Aurora começou a tingir o céu de rosa. O Sol ordena às Horas velozes que
atrelem os cavalos ao carro. Depois, passa uma pomada divina no rosto do filho, põe os raios ao
redor da sua cabeça e profere estas recomendações:

— Não use o chicote e segure as rédeas com
firmeza. Os cavalos correm espontaneamente; o difícil
é controlá-los. Cuidado para não se desviar da rota.
Nem desça nem suba muito alto. Céu e terra devem
suportar o mesmo calor, por isso vá entre um e outra.

Faetonte se instalou no carro, ligeiro ao suportar o peso de um jovem. Os cavalos alados do Sol
partiram, enchendo o ar com seus relinchos de fogo.
Mas como praticamente não sentiam nenhum peso nem força nas rédeas, puseram-se a correr à vontade,
para fora do caminho habitual. O carro ia para cima e para baixo, provocando grande confusão entre os
astros.
Ao olhar do alto do céu para a terra, Faetonte empalideceu e seus joelhos tremeram de pavor. Já se
arrependia do que pedira ao pai. Que fazer? Tinha um espaço infinito de céu às suas costas, outro tanto
diante dos olhos. Não largava as rédeas, mas era incapaz de segurá-las com firmeza.
De repente, assustando-se à vista do Escorpião, Faetonte largou as rédeas. Os cavalos correram a
toda velocidade por regiões onde jamais o carro do Sol tinha estado. A Lua se espanta de ver os cavalos correndo abaixo dos seus. As montanhas mais altas da terra são as primeiras vítimas das chamas. Depois, o solo se fende, as águas secam, o verde se queima.
Cidades inteiras, com sua gente, viram cinza. Foi naquela época, dizem, que os povos da África
passaram a ter cor negra. Faetonte vê o mundo se abrasar nas chamas do
carro do Sol e não sabe o que fazer. Ele mesmo mal pode suportar o calor. Foi então que a Terra, esgotada pela seca, ergueu sua voz sagrada:

— Se eu fiz por merecer isso, ó Zeus, mais
poderoso dos deuses, por que não lanças teus raios
contra mim? Se devo morrer pelo fogo, que seja ao
menos por meio do teu! Já o mundo todo parece
pronto para voltar ao caos original. Livra das chamas
o que ainda resta. Preocupa-te em salvar o universo!

O pai dos deuses, então, ouvindo aquela súplica, lança um raio contra Faetonte. O jovem, com os
cabelos em chamas, tomba do céu, deixando no ar um traço de fogo, como uma estrela cadente. Ninfas
recolheram seu corpo e o sepultaram. Como epitáfio, escreveram estas palavras:

"Aqui jaz Faetonte, cocheiro do carro paterno.
Não conseguiu dirigi-lo, mas morreu num ato de
grande ousadia."

O pai de Faetonte ficou desolado. Dizem mesmo que durante um dia todo não houve sol sobre a terra.

Nyx


A deusa grega Nyx era a personificação da noite. Uma das melhores fontes de informação sobre essa deusa provém da teogonia de Hesíodo. Muitas referências são feitas a Nix naquele poema que descreve o nascimento dos deuses gregos. A explicação é simples. A Noite desempenhou um papel importante no mito como um dos primeiros seres a vir à existência.


Hesíodo afirma que a Noite era filha do Caos, o que a torna uma das primeiras criaturas a emergir do vazio. Isso significa que Nix era irmã de algumas das mais antigas divindades da mitologia grega, incluindo Érebo(a Escuridão), Gaia(a mãe Terra), Tártaro(Trevas abismais) e Eros(o amor da criação). Dessas forças primordiais sobreveio o resto dos deuses gregas. E Nix era responsável por dar origem aos filhos divinos.

Nix deu origem a um enorme número de crias. Algumas dessas crianças da Noite eram Éris (a Discórdia ou Altercação), as moiras (Cloto, Lachesis e Atropos), Nêmesis, as queres (morte em batalha), Oizus (a miséria), os Oniros (a legião dos sonhos), e os irmão gêmeos Hipnos (Deus do sono) e Tânatos (Deus da morte). Conquanto esses seres nasceram de deusas isoladas, sem um pai, Nix também teve filhos do deus Érebo. Dele, a divindade deu à luz Éter, o ar e Hemera, o Dia.

Em sua Teogonia, Hesíodo também descreve a residência proibida da Noite:

"Lá também está a melancólica casa da Noite;

nuvens pálidas a envolvem na escuridão; Antes delas, Atlas se porta, ereto, e sobre sua cabeça, com seus braços incansáveis, sustenta firmemente o amplo céu, onde a Noite e o Dia cruzam um patamar de bronze e então aproximam-se um do outro "


Na tradição Órfica, todo universo e demais Deuses primais nasceram do Ovo Cósmico de Nix.

Nix, cuja raiz é o indo-europeu - Trevas superficiais ou A Noite. Habita o extremo Ocidente, além do país dos Cimérios, enquanto Érebo personifica as trevas subterrâneas e superiores ao manto da Escuridão eterna, superiores supremas.

Nix percorre o céu, coberta por um manto negro, sobre um carro puxado por quatro cavalos negros e sempre acompanhada das Queres. Certos poetas a consideram como mãe de Urano e de Gaia; Hesíodo dá-lhe um lugar entre os filhos do Caos com o posto de Mãe dos Deuses, porque sempre se acreditou que a Nix e Érebo haviam precedido a todas as coisas.

Nix é a patrona das feiticeiras e bruxas, é a Deusa dos segredos e mistérios noturnos, rainha dos astros da noite. Homero se refere a Nix com o epíteto "A domadora dos Homens e dos Deuses", demonstrando como os outros Deuses respeitavam-na e temiam esta poderosíssima deidade.

Nix, assim como Hades, possuía um capuz que a tornava invisível a todos. assistindo assim ao universo sem ser notada. Foi Nix que colocou Hélios entre seus filhos (Hemera, Éter e Hespérides); quando os outros Titãs tentaram assassinar Hélios. Zeus tem um enorme respeito e temível pavor da Deusa da Noite, Nix. Os filhos de Nix são a Hierarquia em poder para os Deuses, sua maioria são divindades que habita o mundo subterrâneo e representam forças indomáveis e que nenhum outro Deus poderia conter. Em uma versão, as Erínias seriam filhas de Nix (Ésquilo), Nix era cultuada por bruxas e feiticeiras, que acreditavam que ela dava fertilidade a terra para brotar ervas encantadas, e também se acreditava que Nix tinha total controle sobre vida e morte, tanto de homens como de Deuses.

Nix aparece ora como uma deusa benéfica que simboliza a beleza da noite (semelhante a Leto) e ora como cruel deidade Tartárea, que profere maldições e castiga com terror noturno (Hécate e Astéria). Nix é também uma Deusa da Morte, a primeira rainha do mundo das Trevas. e Nix também tinha dons proféticos, e foi ela quem criou a arma que Gaia entregou a Cronos para destronar Urano. Nix conhecia o segredo da imortalidade dos Deuses podendo tirá-la e transformar um Deus em mortal, como ela fez com Cronos apos este ser destronado por Zeus.

Desposou Érebo, seu irmão, de quem teve o Éter (luz celestial) e Hemera (Dia). Mas sozinha, sem se unir a nenhuma outra divindade, procriara o inevitável e inflexível Moros (as Sortes), Kera (destina o tipo de morte o destino do homem em seus momentos finais), a Tânatos (Morte), Hipnos (o Sono), Oniro (a legião dos Sonhos), Momos (escarnio), Oizus (miséria), as Hespérides (Tarde), guardadoras dos pomos de ouro, as desapiedadas Moiras (Deusas do destino), a divina Nêmesis (Deusa da retribuição), Apate (engano,fraude), Filotes (amizade) , Geras (velhice) Éris (Discórdia) Limos (a fome), Ftono (inveja), Ênio (Belona, deusa da carnificina) Lissa (a loucura) e Caronte o barqueiro do rio Aqueronte do mundo dos mortos (que transporta as almas dos mortos entre o mundo dos vivos para o mundo dos mortos - o Rio Aqueronte na verdade era o Deus Érebo que foi precipitado em rio sinistro de Hades como forma de castigo por Érebo ter apoiado os Titãs contra os Olimpos, Nix o castigou) a fronteira dos dois mundos; em resumo, tudo quanto havia de doloroso na vida passava por ser obra de Nix, a maior parte dos outros descendentes de Nix nada mais são que conceitos e abstrações personificados; sua importância nos mitos é muito variável.

Algumas vezes, a exemplo de Hades, cujo nome evitava-se de pronunciar, dão a Nix nomes gregos de Eufrone e Eulalia, isto é, "Mãe do bom conselho". Há quem marque o seu império ao norte do Ponto-Euxino, no país dos Cimérios; mas a situação geralmente aceita é na parte da Espanha, - a Esméria, na região do poente, perto das colunas de Héracles, limites do mundo conhecido dos antigos. Quase todos os povos da Itália viam Nix ora com um manto volante recamado de estrelas por cima de sua cabeça e archote derrubado, ora representavam-na como uma mulher nua, com longas asas de morcego e um fanal na mão. Representam-na também coroada de papoulas e envolta num grande manto negro, estrelado. Na mitologia grega a papoula era relacionada a Hipnos, o deus do sono e filho de Nix -que a tinha como planta favorita e, por isso, era representado com os frutos desta planta na mão. Há também uma relação entre a papoula e a deusa Nix. Freqüentemente, ela é representada coroada de papoulas e envolta num grande manto negro e estrelado. Às vezes num carro arrastado por cavalos pretos ou por dois mochos, e a deusa cobre a cabeça com um vasto véu semeado de estrelas e com uma lua minguante na testa ou como brincos.

Muito freqüentemente colocam-na no mundo subterrâneo, entre Hipnos e Tânatos, seus dois filhos. Algumas vezes um menino precede-a, empunhando uma tocha, símbolo do crepúsculo. Os romanos representavam-na ociosa e sempre adormecida. É muito rica em todas as potencialidades de existência, mas entrar em Nix é regressar ao indeterminado, onde se misturam pesadelos, íncubos, súcubos e monstros. Símbolos do inconsciente, é no sono noturno que estes se liberam.

Hemera e as Hespérides nasceram para ajudar Nix a não se cansar, assim nasceu o ciclo diário, Hemera trás o dia (relaciona com Eos, a aurora, e Helios, o Sol) ; as Hespérides trazem a tarde, (relaciona com Selene a lua) e Nix tráz a absoluta Noite, todas estas deidades em conjunto conduzem a dança das Horas; complementando estes ciclos temos outros Deuses de outras linhagens, como as Horas que representam ciclos mensais e anuais; Leto e Hécate que recebem o legado de Nix como deidade da noite. As Moiras, filhas de Nix (Cloto, Laquesis e Atropo); são outra continuidade dos poderes gigantescos de Nix do negro véu…

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Prometeu O Primeiro Benfeitor da Humanidade e o Mito de Pandora


Dizia-se que Prometeu criara os primeiros

homens a partir do barro. Desejando ajudar a
essa humanidade primitiva, provocou por
duas vezes a cólera de Zeus. Um dia, durante um
sacrifício de um boi aos deuses, Prometeu cobriu
com o couro a carne e as vísceras do animal; quanto
aos ossos, passou neles uma espessa camada de
gordura. Convidado a escolher a sua parte, Zeus, sem
saber da trapaça, atraído pela gordura, acabou
ficando com os ossos. É por isso que nos sacrifícios
os gregos queimavam a gordura e os ossos para os
deuses, mas a carne e as vísceras eram comidas pelos
participantes da cerimônia.

Ao descobrir que tinha sido enganado para
favorecer os homens, o pai dos deuses resolveu
vingar-se privando a humanidade do fogo.

Novamente, porém, Prometeu interveio em socorro
dos mortais, desta vez roubando para eles uma
centelha do fogo divino. A cólera terrível de Zeus
maquinou uma punição exemplar.

Zeus enviou aos homens a primeira mulher, que
os deuses Hefesto e Palas Atena, ajudados pelos
demais, criaram. Cada um dos deuses lhe concedeu
determinadas características: Afrodite lhe atribuiu a
beleza e o encanto, Palas Atenas ensinou-lhe tarefas
femininas, Hermes, astúcia, o fingimento e a
mentira, além do dom da palavra. Foi este último
quem a chamou Pandora, que foi enviada à terra
como se fosse um presente para os homens. Essa
primeira mulher levava consigo uma jarra tampada,
na qual os deuses haviam colocado todos os males e
desgraças imagináveis.

Na terra, Pandora não conseguiu conter a
curiosidade e destampou a jarra. Imediatamente,
males e desgraças espalharam-se por todos os lados.

Até então, os homens tinham vivido em paz, sem
doenças, fome ou guerras. Pandora precipitadamente
voltou a tampar a jarra, mas já todos os males tinham
escapado, com exceção da esperança. Foi assim que
a justiça de Zeus puniu os homens.

Quanto a Prometeu, foi acorrentado a um
rochedo. Uma águia vinha de dia roer-lhe o fígado; à
noite, a parte que faltava renascia milagrosamente,
tornando eterno o seu suplício.
Muito tempo depois, Hércules, um outro
benfeitor da humanidade, mataria a águia e libertaria
Prometeu.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A soberania de Zeus e sua esposa Hera

De Úrano e Géia, nasceram vários filhos;
dentre eles, Cronos, um dos Titãs, que um
dia, tomando o poder sobre o céu, tornou-se o
deus supremo.

Cronos se casou com Réia. Entretanto, haviam
predito ao novo soberano que ele haveria de ser
destronado como Úrano, e também pelo próprio
filho. Tentando escapar a esse destino, Cronos
devorava os filhos assim que Réia os dava à luz. Um
dia a mãe, não suportando mais essa situação, fugiu,
grávida, para a ilha de Creta, e ali gerou Zeus. Para
enganar o marido, envolveu uma pedra num manto e,
fingindo tratar-se de mais um filho de Cronos, deulhe
para que devorasse. Mais tarde, Zeus, ao lado dos
outros deuses do Olimpo, guerreou contra Cronos e
seus irmãos Titãs, numa disputa que durou dez anos
e terminou com a vitória do primeiro. A Terra,
furiosa por Zeus ter precipitado os Titãs nos Infernos,
mandou contra ele seus terríveis filhos, os Gigantes,
mas a nova guerra também terminou com sua vitória.

Foi assim que Zeus se tornou o supremo rei dos
deuses, reinando sobre o céu luminoso.
Com o raio em uma das mãos e o cetro de rei na
outra, Zeus velava pela ordem do universo, pela
concórdia entre os deuses e o cumprimento das
promessas e juramentos. Era o soberano do céu,
como Possêidon era o deus do mar
e Hades o das regiões infernais.

Mas uma força superava a de
Zeus: a do Destino.

Havia três

Moiras que teciam a sorte dos
homens, e nem Zeus poderia mudar
o que elas estabeleciam.

Cloto esticava o fio dos destinos,
Láquesis o colocava no fuso da roca5 e Átropos o
cortava, determinando a duração de cada vida
humana de acordo com o tamanho do pedaço de fio.

A águia era a ave de Zeus, como o carvalho sua
árvore preferida.

Hera, irmã e esposa de Zeus, deusa do
casamento, morria de ciúmes diante das
infidelidades constantes do marido. De fato, ele não
hesitava em recorrer a todos os meios para obter o
amor das mortais por cuja beleza se apaixonava. Não
podendo enfrentar o supremo rei dos deuses, a cólera
da deusa se voltava contra suas rivais ou os filhos
que Zeus tinha com elas.

Foi por causa de Hera que o herói Hércules teve
 de passar por doze terríveis tarefas. Um dia, quando
ele navegava de volta para casa, vindo de Tróia, Hera
provocou no mar uma tempestade espantosa. Zeus,
porém, castigou-a por isso: prendeu-a com uma
corrente de ouro, amarrada de cabeça para baixo do
alto de uma nuvem, com uma bigorna em cada pé...
Seu filho Hefesto, o deus ferreiro, libertou-a,
provocando a cólera de Zeus, que o precipitou do
alto do céu. Foi nessa ocasião, dizem, que Hefesto
ficou coxo para sempre.

A Hera estavam consagrados o pavão e a vaca.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Eros e Psiqué

Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite.

Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se profundamente.
O pai de Psique, suspeitando que, inadvertidamente, havia ofendido os deuses, resolveu consultar o oráculo de Apolo, pois suas outras filhas encontraram maridos e, no entanto, Psique permanecia sozinha. Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente. A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos.

Conformada com seu destino, Psique foi tomada por um profundo sono, sendo, então, conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale.
Quando acordou, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico. Notou que lá deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes. Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz.
Chegando a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de ali encontraria finalmente o seu terrível esposo, começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto. No entanto, uma voz maravilhosa a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo. A esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, já havia chegado o dia e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites.

Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Psique sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs. Finalmente, ele aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs dissessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.
Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal.
Ao receber novamente suas irmãs, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.

A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.
Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.
Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
-Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita.
Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.
Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.
Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
-Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece.
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.
Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta montanha e trazer para Afrodite uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.
Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades. Ensinou-lhe ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
-Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais.
Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou.

Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a.
-Sua curiosidade foi novamente sua grande falta, mas agora podes apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa. - Lembrou-lhe Eros
Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia. Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).