Um touro enlouquecido, que soltava fogo pelas
ventas, devastava a ilha de Creta. O sétimo
trabalho de Héracles consistiu em capturá-lo
e trazê-lo vivo a seu primo Euristeu. Esse, por sua
vez, quis consagrá-lo a Hera, mas a deusa, ainda
colérica contra Hércules, recusou, e o animal foi
solto.
A oitava proeza do herói consistiu em capturar as
éguas de Diomedes, o rei da Trácia. Diomedes
aprisionava os estrangeiros que vinham ter a seu país
e com sua carne alimentava os quatro animais.
Héracles matou o rei e deu seu corpo às éguas para
ser devorado por elas.
A filha de Eristeu, Admeta, desejava para si o
cinto da rainha das amazonas, Hipólita; obtê-lo foi o
nono trabalho de Héracles. As amazonas eram
mulheres guerreiras, descendentes de Ares, o deus da
guerra, e tinham uma comunidade formada apenas de
mulheres. Lutavam com grande bravura. Para se
apoderar do cinto da rainha, Héracles teve de lutar
com aquelas mulheres e matar Hipólita.
Trazer os bois do imenso rebanho de Gerião, um
gigante de três cabeças, foi a décima proeza do herói.
Para isso, Héracles teve de ir até a ilha de Eritia,
atravessando o Oceano. Como conseguiria isso? Foi
preciso empregar a enorme taça do Sol; nela, todos
os dias o Sol embarcava de volta para seu palácio no
Oriente depois de ter, ao cair da noite, chegado ao
Oceano. O Sol só lhe emprestou sua taça quando
Héracles, irritado com o calor ao atravessar um
deserto, ameaçou atingi-lo com suas flechas. No
Oceano, tão agitadas estavam as ondas, que Héracles
teve de fazer também a mesma ameaça a ele para que
se acalmasse. Em Eritia, nos confins do Ocidente,
Héracles matou, com sua clava, o cão Ortro, um
animal monstruoso, e o pastor Eritíon, que
guardavam o rebanho. Gerião tentou resistir, mas as
setas de Héracles o venceram. Os animais que o
herói conseguiu fazer chegar até Euristeu foram
sacrificados a Hera.
O décimo primeiro trabalho parecia realmente
impossível: descer ao reino dos mortos, ao sombrio
Hades, e capturar o cão Cérbero. Esse animal
aterrorizante, com três cabeças e as costas e o
pescoço cobertos de serpentes, impedia a entrada de
vivos naquelas regiões bem como a saída dos mortos.
O deus Hades consentiu que Héracles levasse
Cérbero com a condição de que não usasse armas.
Hércules, então, atacou o cão, segurou-o pelo
pescoço e, com a cauda do animal, que tinha um
ferrão, deu-lhe várias picadas. E pôde sair dos
Infernos e levar a Euristeu a estranha presa. O primo,
à vista daquele ser monstruoso, saiu correndo,
apavorado e foi se esconder em seu jarro de bronze...
O herói devolveu Cérbero a Hades.
O último dos doze trabalhos foi trazer maçãs de
ouro do jardim das Hespérides. Essas maçãs tinham
sido o presente de casamento, oferecido pela Terra,
nas bodas de Zeus e Hera. A deusa as plantara no
jardim dos deuses e, para proteger a árvore e os
frutos, deixara-os sob a guarda de um dragão de cem
cabeças e das três ninfas do Poente, as Hespérides.
No caminho para o jardim, Héracles, dentre outras
façanhas, libertou Prometeu do rochedo a que estava
encadeado. Prometeu, em reconhecimento, advertiu-lhe
que a única maneira de conseguir colher os frutos
era através do gigante Atlas, que sustentava o céu
sobre os ombros. Ao encontrar Atlas, Héracles fez-lhe
uma proposta: seguraria o céu em seu lugar por
algum tempo, enquanto o gigante iria colher três
maçãs do jardim das Hespérides, que ficava perto. E
assim aconteceu. Atlas, porém, queria levar
pessoalmente as maçãs a Euristeu, enquanto o herói
ficaria suportando o peso do céu. Héracles fingiu
concordar, mas usou de esperteza para escapar a essa
situação: pediu ao gigante que segurasse aquele
fardo por alguns momentos para que ele pudesse
colocar uma almofada sobre os ombros. Atlas voltou
a segurar o céu —
para sempre..., enquanto
Hércules
partia, de volta à
pátria de Euristeu.
Levadas ao rei, as
frutas foram oferecidas
a Hera, que as
pôs de volta em seu
jardim.
Assim se cumpriram
os doze trabalhos
de Hércules,
doze proezas impossíveis
para os mortais
comuns.
domingo, 4 de março de 2012
terça-feira, 12 de abril de 2011
Os Doze Trabalhos de Herácles (Hércules) – Parte I
Herácles casou-se com Mégara e desse
casamento nasceram alguns filhos. Hera,
ainda desejosa de vingar-se do adultério de
Zeus, fez com que o herói, num acesso de loucura,
matasse-os todos, juntamente com sua própria mãe e
os filhos de seu irmão Íficles.
Contaminado por aquele morticínio e desejando se
purificar, Herácles se dirigiu ao oráculo de Delfos a
fim de consultar o deus Apolo através de sua
sacerdotisa, a Pítia. Para expiar seu crime, a
sacerdotisa lhe disse que ele deveria se colocar a
serviço de seu primo Euristeu por doze anos; por
outro lado, com isso conseguiria a imortalidade. O
herói obedeceu às ordens de Apolo.
Euristeu, que era rei de Micenas, temia que seu
primo Herácles quisesse tomar-lhe o poder e
resolveu, então, dar-lhe doze tarefas que pareciam
impossíveis de realizar. Contava, assim, ver-se livre
daquele homem que lhe causava tanto medo.
O primeiro trabalho de Herácles foi matar o leão
de Neméia, um animal monstruoso, que devorava
homens e rebanhos. Esse animal, quando não estava
atacando, escondia-se numa caverna. Primeiramente,
o herói tentou feri-lo com flechas, mas a pele
do leão era invulnerável e nada sofria com esse
ataque. Depois, deu-lhe, com sua clava, fortes golpes
e sufocou-o entre seus braços. Morto o leão,
Herácles tirou-lhe a pele e se cobriu com ela.
Finalmente, Zeus transformou o animal em constelação.
Como segundo trabalho, Herácles teve de matar a
Hidra de Lerna, uma serpente com várias cabeças
(humanas, segundo alguns!) que devastava as terras
por onde passava. Seu hálito era mortífero, e suas
cabeças renasciam em dobro quando cortadas. Além
disso, a cabeça do centro era imortal. Mas, com a
ajuda de seu sobrinho Iolau, o herói venceu o
monstro. De fato, enquanto ia cortando as cabeças da
Hidra, Iolau queimava as feridas, impedindo, assim,
que da carne machucada nascessem novas. Por fim,
Herácles cortou a cabeça do meio, enterrou-a e pôslhe
por cima um enorme rochedo.
Morto o monstro, o herói embebeu suas flechas no seu sangue
venenoso, tornando-as também envenenadas.
A terceira tarefa de Herácles foi trazer vivo um
enorme javali que vivia na montanha chamada
Erimanto, na Arcádia, uma região da Grécia. O herói
o fez com facilidade, atraindo o javali para fora de
sua toca e fazendo-o caminhar pela neve até se
cansar. Aí, capturou-o e levou-o nos ombros até a
cidade de seu primo, que lhe ordenara aquele
trabalho. Quando chegou com o animal, Euristeu,
apavorado, saiu correndo e se escondeu dentro de um
jarro de bronze...
Trazer viva a corça do monte Cerinia foi o quarto
dever imposto a Herácles. Era, também, um animal
gigantesco, mais forte que um touro, e devastava as
colheitas. Tinha chifres dourados, pés de bronze e era
velocíssima. O herói não podia matá-la, pois era um
animal consagrado à deusa Ártemis. Herácles
perseguiu-a durante todo um ano, em vão. Um dia,
porém, quando ela, já cansada, foi atravessar um rio,
Herácles conseguiu feri-la com uma flecha e
capturá-la. E levou-a a Euristeu, cumprindo mais
uma tarefa impossível a um mortal qualquer.
Matar as gigantescas aves do lago Estínfalo foi o
quinto trabalho de Herácles. Eram em grande
quantidade e devastavam colheitas e pomares.
Diziam alguns que eram antropófagas, com penas de
aço que feriam o inimigo como se fossem setas. Para
liquidá-las, Herácles tinha de as fazer sair da espessa
floresta, perto do lago Estínfalo, em que se
ocultavam. Teve uma grande idéia: com castanholas
de bronze, fez um barulho tal, que as aves saíram
daquele esconderijo. Então, usando as setas
envenenadas com o sangue da Hidra de Lerna,
Herácles as matou uma por uma.
O sexto trabalho consistiu em limpar os estábulos
do rei Augias, que tinha um imenso rebanho, com
milhares de cabeças. Esse homem não limpava as
instalações havia trinta anos. O estrume não era
aproveitado como fertilizante nas lavouras, e as
terras iam ficando estéreis com o passar do tempo.
Herácles fez uma aposta com Augias: receberia uma
parte de seu rebanho se conseguisse limpar os
estábulos em apenas um dia. Julgando que aquilo era
impossível, o rei prontamente aceitou a aposta.
Herácles, então, desviou a corrente de dois rios para
os estábulos e, com a maior rapidez, conseguiu
limpar toda a sujeira acumulada ao longo dos anos.
quarta-feira, 2 de março de 2011
O Mito da Fênix
A fênix ou fénix (em grego ϕοῖνιξ) é um pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. Outra característica da fénix é sua força que a faz transportar em voo cargas muito pesadas, havendo lendas nas quais chega a carregar elefantes. Podendo se transformar em uma ave de fogo.
Teria penas brilhantes, douradas, e vermelho-arroxeadas, e seria do mesmo tamanho ou maior do que uma águia. Segundo alguns escritores gregos, a fénix vivia exatamente quinhentos anos. Outros acreditavam que seu ciclo de vida era de 97.200 anos. No final de cada ciclo de vida, a fénix queimava-se numa pira funerária. A vida longa da fénix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual.
Os gregos parecem ter se baseado em Bennu, da mitologia egípcia, representado na forma de uma ave acinzentada semelhante à garça, hoje extinta, que habitava o Egito. Cumprido o ciclo de vida do Bennu, ele voava a Heliópolis, pousava sobre a pira do Deus Rá, ateava fogo em seu ninho e se deixava consumir pelas chamas, renascendo das cinzas.
Hesíodo, poeta grego do século VIII a.C., afirmou que a fênix vivia nove vezes o tempo de existência do corvo, que tem uma longa vida. Outros cálculos mencionaram até 97.200 anos.
De forma semelhante a Bennu, quando a ave sentia a morte se aproximar, construía uma pira de ramos de canela, sálvia e mirra em cujas chamas morria queimada. Mas das cinzas erguia-se então uma nova fénix, que colocava piedosamente os restos da sua progenitora num ovo de mirra e voava com ele à cidade egípicia de Heliópolis, onde os colocava no Altar do Sol.
Dizia-se que estas cinzas tinham o poder de ressuscitar um morto. O imperador romano Heliogábalo(204-222 d. C.) decidiu comer carne de fénix, a fim de conseguir a imortalidade. Comeu uma ave-do-paraíso, que lhe foi enviada em vez de uma fénix, mas foi assassinado pouco tempo depois.
Atualmente os estudiosos creem que a lenda surgiu no Oriente e foi adaptada pelos sacerdotes do Sol de Heliópolis como uma alegoria da morte e renascimento diários do astro-rei. Tal como todos os grandes mitos gregos, desperta consonâncias no mais íntimo do homem. Na arte cristã, a fénix renascida tornou-se um símbolo popular da ressurreição de Cristo.
Curiosamente, o seu nome pode dever-se a um equívoco de Heródoto, historiador grego do século V a.C.. Na sua descrição da ave, ele pode tê-la erroneamente designado por fénix (phoenix), a palmeira (phoinix em grego) sobre a qual a ave era nessa época representada.
- A crença na ave lendária que renasce das próprias cinzas existiu em vários povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses. Em todas as mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca têm fim.
- Para os gregos, a fénix por vezes estava ligada ao deus Hermes e é representada em muitos templos antigos. Há um paralelo da fénix com o Sol, que morre todos os dias no horizonte para renascer no dia seguinte, tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.
- Os egípcios a tinham por "Bennu" e estava relacionada a estrela "Sótis", ou estrela de cinco pontas, estrela flamejante, que é pintada ao seu lado.
- Na China antiga a fénix foi representada como uma ave maravilhosa e transformada em símbolo da felicidade, da virtude, da força, da liberdade, e da inteligência. Na sua plumagem, brilham as cinco cores sagradas.Roxo, Azul, Vermelha, Branco e Dourado.
domingo, 9 de janeiro de 2011
Héstia
Héstia é a deusa grega dos laços familiares, simbolizada pelo fogo da lareira.
Filha de Cronos e Reia para os gregos, era uma das doze divindades olímpicas.
Héstia, cortejada por Posídon e Apolo, jurou virgindade perante Zeus, e dele recebeu a honra de ser venerada em todos os lares, ser incluída em todos os sacrifícios e permanecer em paz, em seu palácio cercada do respeito de deuses e mortais.
Embora não apareça com frequência nas histórias mitológicas, era admirada por todos os deuses. Era a personificação da moradia estável, onde as pessoas se reuniam para orar e oferecer sacrifícios aos deuses. Era adorada como protetora das cidades, das famílias e das colônias.
Sua chama sagrada brilhava continuamente nos lares e templos. Todas as cidades possuíam o fogo de Héstia, colocado no palácio onde se reuniam as tribos. Esse fogo deveria ser conseguido direto do sol.
Quando os gregos fundavam cidades fora da Grécia, levavam parte do fogo da lareira como símbolo da ligação com a terra materna e com ele, acendiam a lareira onde seria o núcleo político da nova cidade.
Sempre fixa e imutável, Héstia simbolizava a perenidade da civilização.
Em Delfos, era conservada a chama perpétua com a qual se acendia a héstia de outros altares.
Cada peregrino que chegava a uma cidade, primeiro fazia um sacrifício à Héstia.
Seu culto era muito simples: na família, era presidido pelo pai ou pela mãe; nas cidades, pelas maiores autoridades políticas.
Era representada como uma mulher jovem, com uma larga túnica e um véu sobre a cabeça e sobre os ombros. Havia imagens nas suas principais cidades, mas sua figura severa e simples não ofereceu muito material para os artistas
Filha de Cronos e Reia para os gregos, era uma das doze divindades olímpicas.
Héstia, cortejada por Posídon e Apolo, jurou virgindade perante Zeus, e dele recebeu a honra de ser venerada em todos os lares, ser incluída em todos os sacrifícios e permanecer em paz, em seu palácio cercada do respeito de deuses e mortais.
Embora não apareça com frequência nas histórias mitológicas, era admirada por todos os deuses. Era a personificação da moradia estável, onde as pessoas se reuniam para orar e oferecer sacrifícios aos deuses. Era adorada como protetora das cidades, das famílias e das colônias.
Sua chama sagrada brilhava continuamente nos lares e templos. Todas as cidades possuíam o fogo de Héstia, colocado no palácio onde se reuniam as tribos. Esse fogo deveria ser conseguido direto do sol.
Quando os gregos fundavam cidades fora da Grécia, levavam parte do fogo da lareira como símbolo da ligação com a terra materna e com ele, acendiam a lareira onde seria o núcleo político da nova cidade.
Sempre fixa e imutável, Héstia simbolizava a perenidade da civilização.
Em Delfos, era conservada a chama perpétua com a qual se acendia a héstia de outros altares.
Cada peregrino que chegava a uma cidade, primeiro fazia um sacrifício à Héstia.
Seu culto era muito simples: na família, era presidido pelo pai ou pela mãe; nas cidades, pelas maiores autoridades políticas.
Era representada como uma mulher jovem, com uma larga túnica e um véu sobre a cabeça e sobre os ombros. Havia imagens nas suas principais cidades, mas sua figura severa e simples não ofereceu muito material para os artistas
domingo, 19 de dezembro de 2010
A Guerra de Tróia (Parte V)
O cavalo de madeira e o fim de Tróia
Após dez anos de luta, sem que Tróia parecesse
ceder, os gregos resolveram finalmente dar o
golpe decisivo contra a cidade. Empregaram
o que seria muitas vezes reconhecido como seu
maior talento: a inteligência e a astúcia. Quem teve a
idéia decisiva foi o preferido da deusa da sabedoria,
Odisseu, ou Ulisses, um homenzinho atarracado,
dotado de uma sagacidade que o tornava
indispensável ao exército. Seguindo instruções desse
homem astucioso, Epeu construiu um grande cavalo
de madeira e em seu enorme ventre entraram os
maiores guerreiros da Grécia.
Os gregos fingiram que tinham partido de Tróia e
que finalmente retornavam para casa, cansados da
longa e inútil guerra. Na verdade, esconderam-se na
ilha de Tênedos, que ficava próxima. Antes da
partida, fizeram chegar aos troianos o rumor de que
o enorme cavalo de madeira que haviam construído
era uma oferenda à deusa Palas Atena, para que ela
assegurasse um bom retorno a todos. Aliviados, os
troianos saem dos muros que os protegiam e visitam
o campo de tantas batalhas. Diante da alegria
despreocupada dos seus, o sacerdote de Netuno,
Laocoonte, se revolta:
— Que loucura é essa, infelizes cidadãos? Acham
que os inimigos foram mesmo embora, que os dons
dos dânaos não contêm nenhuma armadilha? Temo
os gregos mesmo quando trazem presentes!
E assim dizendo atirou uma lança no cavalo, cujo
interior ressoou e pareceu soltar um gemido.
De repente se ouviu um clamor de vozes; pastores
troianos traziam para junto do rei um jovem grego
que tinham encontrado amarrado não muito longe
dali. A notícia logo se espalhou e todo mundo
acorreu para ver o rapaz e saber o que ia acontecer
com ele. Admirados, ouviram suas primeiras
palavras:
— Ai!, que resta para este infeliz? Não há lugar para
mim entre os gregos, ao passo que os troianos querem
se vingar com meu sangue!
Eram palavras entrecortadas de gemidos e
lágrimas. Atiçaram a curiosidade de todo mundo, e
talvez já começasse a nascer ali um pouco de piedade
no coração dos troianos. Todos o estimularam a dizer
quem era e o que lhe acontecera. Disse ele:
— Não negarei que sou grego; posso ser um
pobre infeliz, mas não um mentiroso. O odioso
Odisseu quis se vingar de mim, porque eu era
companheiro de Palamedes. Odisseu odiava tanto
esse homem que conseguiu fazer, através das mais
sórdidas intrigas, que os gregos o condenassem à
morte por traição. Eu fiquei indignado com o fim
daquele inocente, prometendo vingá-lo, e Odisseu
nunca me perdoou isso; pelo contrário, começou a
fazer ameaças, a tecer acusações falsas. Não
descansou enquanto não conseguiu a ajuda do
adivinho Calcas... Mas por que fico falando dessas
coisas? Se vocês consideram todos os gregos da
mesma forma, vamos, matem-me! Odisseu ficaria
bem contente com isso, e Menelau e Agamêmnon
lhes dariam uma boa recompensa...
Aquela era uma interrupção estratégica: os
troianos arderam de curiosidade para saber o que
acontecera com Sinão e que estaria fazendo o
adivinho naquela história intrigante. Assim, rogaram
que o rapaz continuasse a narrar os crimes da raça
odiada. Fingindo como sempre, Sinão prosseguiu:
— Cansados dessa guerra, os gregos muitas vezes
pensaram em ir embora, mas o mau tempo sempre os
impedia. Um vento violento varria as ondas do mar,
o céu se cobria de nuvens e trovejava espantosamente,
sobretudo depois que o cavalo de madeira
construído para a deusa Palas ficou pronto. Consultado
o oráculo de Apolo,
os deuses nos mandaram
esta mensagem horrível:
“—Com sangue se deve
buscar o retorno, sacrificando
uma alma grega!”
Ficamos todos apavorados,
perguntando-nos quem de
nós os destinos e Apolo estavam reclamando.Odisseu, então, traz o adivinho Calcas e o
obriga a dizer que os altares estavam destinando à
morte... Sinão, a mim, que aquele velhaco queria há
tanto tempo pôr a perder! Todo mundo, aliviado de
escapar à morte, aprova as palavras de Calcas. Chega
o dia do sacrifício; amarram-me e colocam fitas em
volta da minha cabeça, polvilhada com cevada e sal,
como é costume fazer com os animais oferecidos aos
deuses em sacrifício. Fugi, confesso a vocês, mas já
não tenho esperança de rever meus queridos filhos e
meu saudoso pai. Pelos deuses do alto e pelos
numes da verdade, suplico-lhes, tenham compaixão
de uma alma que suportou tamanhos sofrimentos
sem merecer!
Sinão terminou esse discurso em lágrimas,
comovendo o coração dos troianos. Por fim, com a
mesma habilidade, contou como o cavalo fora
construído para obter as boas graças de Palas Atena.
Por recomendação de Calcas, tinham feito algo
enorme, que fosse impossível de penetrar nos muros
de Tróia, afinal a posse do cavalo significaria a
proteção da deusa para seu povo. Se o recebessem na
cidade, um dia Tróia haveria de fazer uma guerra
vitoriosa aos gregos; porém, se maltratassem o dom
de Palas, grande mal adviria para o Império de
Príamo.
Mas eis que de repente um prodígio aterrador veio
perturbar a mente e o coração dos troianos ainda
mais. Quando Laoconte, que atingira com a lança o
cavalo deixado pelos gregos, estava
sacrificando um touro na praia, da
ilha de Tênedos, através das águas
tranqüilas, duas serpentes
gigantescas começaram a vir
em sua direção.
Tinham enormes anéis e seus peitos
erguidos e suas
cristas cor de sangue se sobressaíam sobre as ondas.
Faz-se um estrondo no mar espumante. E eis que logo
chegam à praia e se dirigem ao sacerdote com os
olhos ardentes injetados de sangue e fogo e vibrando
as línguas sibilantes.
A esse espetáculo horrendo, os troianos fogem
em disparada, brancos como cera. Os monstros do
mar buscam Laocoonte e envolvem em seus anéis
gigantescos o sacerdote e seus dois filhos. O pai
estava armado, mas as serpentes o prendem com nós
apertados em volta do seu corpo, impedindo
qualquer reação. Laocoonte tenta em vão afrouxar os
nós, ainda segurando nas mãos as fitas do sacrifício,
agora tingidas de sangue e do negro veneno dos
monstros. Ao mesmo tempo solta em direção aos
astros horrendos berros. Pareciam os mugidos de um
boi que foge do altar, depois que recebeu um golpe
de machadinha no pescoço não forte o bastante para
derrubá-lo em sacrifício aos deuses. Os dragões
então se dirigem ao santuário da deusa Palas e se
escondem sob o escudo aos pés da deusa.
Esse acontecimento pareceu aos troianos uma
severa advertência da deusa, afinal Palas Atena
punira com as serpentes do mar o sacerdote que tinha
atirado uma lança contra o cavalo a ela dedicado.
Mais que depressa, eles transportaram aquele objeto
gigantesco para dentro de suas muralhas. Ao som de
hinos religiosos, com festas e alegres cânticos, o
cavalo foi introduzido na cidade.
Nessa noite, enquanto os troianos dormiam, como
que sepultados no sono e no vinho, a esquadra grega
deixou Tênedos e se dirigiu a Tróia, encoberta pelas
trevas que pareciam abraçar todo o mundo,
cúmplices da estratégia de Odisseu. Sem ser visto,
Sinão caminhou até o cavalo e chamou os guerreiros
para fora. É sobre uma Tróia despreocupada e desarmada
que se precipitaria o inimigo, sedento de
vingança depois de tantos anos de luta inútil.
E aquela foi a última noite da outrora próspera
cidade asiática, vítima dos deuses, da esperteza de
um grego, de palavras e lágrimas mentirosas, mas
também da sua própria boa-fé e compaixão. Muitos
dos guerreiros gregos que praticaram naquela
ocasião toda espécie de crime seriam castigados
depois, ao passo que os troianos que conseguiram
escapar da cidade em chamas haveriam de lançar as
sementes de uma outra e muito mais poderosa Tróia,
a futura Roma, como se os deuses se divertissem em
erguer hoje às alturas da glória os que amanhã
tombariam na mais dura ruína e vice-versa. Mas essa
já é uma outra história.
Em pouco tempo, uma cidade próspera e rica
tombava em ruínas junto com seu velho rei, Príamo,
logo reduzido a um mísero corpo decapitado, sem
ninguém que lhe desse sepultura. Em pouco tempo,
toda a cidade se enchia de lágrimas de mulheres e
crianças logo escravizadas para servir aos senhores
gregos. As trevas que haviam dissimulado a
irrupção do inimigo pela cidade iluminavam-se com
o fogo de um incêndio que parecia querer durar para
todo o sempre.
Após dez anos de luta, sem que Tróia parecesse
ceder, os gregos resolveram finalmente dar o
golpe decisivo contra a cidade. Empregaram
o que seria muitas vezes reconhecido como seu
maior talento: a inteligência e a astúcia. Quem teve a
idéia decisiva foi o preferido da deusa da sabedoria,
Odisseu, ou Ulisses, um homenzinho atarracado,
dotado de uma sagacidade que o tornava
indispensável ao exército. Seguindo instruções desse
homem astucioso, Epeu construiu um grande cavalo
de madeira e em seu enorme ventre entraram os
maiores guerreiros da Grécia.
Os gregos fingiram que tinham partido de Tróia e
que finalmente retornavam para casa, cansados da
longa e inútil guerra. Na verdade, esconderam-se na
ilha de Tênedos, que ficava próxima. Antes da
partida, fizeram chegar aos troianos o rumor de que
o enorme cavalo de madeira que haviam construído
era uma oferenda à deusa Palas Atena, para que ela
assegurasse um bom retorno a todos. Aliviados, os
troianos saem dos muros que os protegiam e visitam
o campo de tantas batalhas. Diante da alegria
despreocupada dos seus, o sacerdote de Netuno,
Laocoonte, se revolta:
— Que loucura é essa, infelizes cidadãos? Acham
que os inimigos foram mesmo embora, que os dons
dos dânaos não contêm nenhuma armadilha? Temo
os gregos mesmo quando trazem presentes!
E assim dizendo atirou uma lança no cavalo, cujo
interior ressoou e pareceu soltar um gemido.
De repente se ouviu um clamor de vozes; pastores
troianos traziam para junto do rei um jovem grego
que tinham encontrado amarrado não muito longe
dali. A notícia logo se espalhou e todo mundo
acorreu para ver o rapaz e saber o que ia acontecer
com ele. Admirados, ouviram suas primeiras
palavras:
— Ai!, que resta para este infeliz? Não há lugar para
mim entre os gregos, ao passo que os troianos querem
se vingar com meu sangue!
Eram palavras entrecortadas de gemidos e
lágrimas. Atiçaram a curiosidade de todo mundo, e
talvez já começasse a nascer ali um pouco de piedade
no coração dos troianos. Todos o estimularam a dizer
quem era e o que lhe acontecera. Disse ele:
— Não negarei que sou grego; posso ser um
pobre infeliz, mas não um mentiroso. O odioso
Odisseu quis se vingar de mim, porque eu era
companheiro de Palamedes. Odisseu odiava tanto
esse homem que conseguiu fazer, através das mais
sórdidas intrigas, que os gregos o condenassem à
morte por traição. Eu fiquei indignado com o fim
daquele inocente, prometendo vingá-lo, e Odisseu
nunca me perdoou isso; pelo contrário, começou a
fazer ameaças, a tecer acusações falsas. Não
descansou enquanto não conseguiu a ajuda do
adivinho Calcas... Mas por que fico falando dessas
coisas? Se vocês consideram todos os gregos da
mesma forma, vamos, matem-me! Odisseu ficaria
bem contente com isso, e Menelau e Agamêmnon
lhes dariam uma boa recompensa...
Aquela era uma interrupção estratégica: os
troianos arderam de curiosidade para saber o que
acontecera com Sinão e que estaria fazendo o
adivinho naquela história intrigante. Assim, rogaram
que o rapaz continuasse a narrar os crimes da raça
odiada. Fingindo como sempre, Sinão prosseguiu:
— Cansados dessa guerra, os gregos muitas vezes
pensaram em ir embora, mas o mau tempo sempre os
impedia. Um vento violento varria as ondas do mar,
o céu se cobria de nuvens e trovejava espantosamente,
sobretudo depois que o cavalo de madeira
construído para a deusa Palas ficou pronto. Consultado
o oráculo de Apolo,
os deuses nos mandaram
esta mensagem horrível:
“—Com sangue se deve
buscar o retorno, sacrificando
uma alma grega!”
Ficamos todos apavorados,
perguntando-nos quem de
nós os destinos e Apolo estavam reclamando.Odisseu, então, traz o adivinho Calcas e o
obriga a dizer que os altares estavam destinando à
morte... Sinão, a mim, que aquele velhaco queria há
tanto tempo pôr a perder! Todo mundo, aliviado de
escapar à morte, aprova as palavras de Calcas. Chega
o dia do sacrifício; amarram-me e colocam fitas em
volta da minha cabeça, polvilhada com cevada e sal,
como é costume fazer com os animais oferecidos aos
deuses em sacrifício. Fugi, confesso a vocês, mas já
não tenho esperança de rever meus queridos filhos e
meu saudoso pai. Pelos deuses do alto e pelos
numes da verdade, suplico-lhes, tenham compaixão
de uma alma que suportou tamanhos sofrimentos
sem merecer!
Sinão terminou esse discurso em lágrimas,
comovendo o coração dos troianos. Por fim, com a
mesma habilidade, contou como o cavalo fora
construído para obter as boas graças de Palas Atena.
Por recomendação de Calcas, tinham feito algo
enorme, que fosse impossível de penetrar nos muros
de Tróia, afinal a posse do cavalo significaria a
proteção da deusa para seu povo. Se o recebessem na
cidade, um dia Tróia haveria de fazer uma guerra
vitoriosa aos gregos; porém, se maltratassem o dom
de Palas, grande mal adviria para o Império de
Príamo.
Mas eis que de repente um prodígio aterrador veio
perturbar a mente e o coração dos troianos ainda
mais. Quando Laoconte, que atingira com a lança o
cavalo deixado pelos gregos, estava
sacrificando um touro na praia, da
ilha de Tênedos, através das águas
tranqüilas, duas serpentes
gigantescas começaram a vir
em sua direção.
Tinham enormes anéis e seus peitos
erguidos e suas
cristas cor de sangue se sobressaíam sobre as ondas.
Faz-se um estrondo no mar espumante. E eis que logo
chegam à praia e se dirigem ao sacerdote com os
olhos ardentes injetados de sangue e fogo e vibrando
as línguas sibilantes.
A esse espetáculo horrendo, os troianos fogem
em disparada, brancos como cera. Os monstros do
mar buscam Laocoonte e envolvem em seus anéis
gigantescos o sacerdote e seus dois filhos. O pai
estava armado, mas as serpentes o prendem com nós
apertados em volta do seu corpo, impedindo
qualquer reação. Laocoonte tenta em vão afrouxar os
nós, ainda segurando nas mãos as fitas do sacrifício,
agora tingidas de sangue e do negro veneno dos
monstros. Ao mesmo tempo solta em direção aos
astros horrendos berros. Pareciam os mugidos de um
boi que foge do altar, depois que recebeu um golpe
de machadinha no pescoço não forte o bastante para
derrubá-lo em sacrifício aos deuses. Os dragões
então se dirigem ao santuário da deusa Palas e se
escondem sob o escudo aos pés da deusa.
Esse acontecimento pareceu aos troianos uma
severa advertência da deusa, afinal Palas Atena
punira com as serpentes do mar o sacerdote que tinha
atirado uma lança contra o cavalo a ela dedicado.
Mais que depressa, eles transportaram aquele objeto
gigantesco para dentro de suas muralhas. Ao som de
hinos religiosos, com festas e alegres cânticos, o
cavalo foi introduzido na cidade.
Nessa noite, enquanto os troianos dormiam, como
que sepultados no sono e no vinho, a esquadra grega
deixou Tênedos e se dirigiu a Tróia, encoberta pelas
trevas que pareciam abraçar todo o mundo,
cúmplices da estratégia de Odisseu. Sem ser visto,
Sinão caminhou até o cavalo e chamou os guerreiros
para fora. É sobre uma Tróia despreocupada e desarmada
que se precipitaria o inimigo, sedento de
vingança depois de tantos anos de luta inútil.
E aquela foi a última noite da outrora próspera
cidade asiática, vítima dos deuses, da esperteza de
um grego, de palavras e lágrimas mentirosas, mas
também da sua própria boa-fé e compaixão. Muitos
dos guerreiros gregos que praticaram naquela
ocasião toda espécie de crime seriam castigados
depois, ao passo que os troianos que conseguiram
escapar da cidade em chamas haveriam de lançar as
sementes de uma outra e muito mais poderosa Tróia,
a futura Roma, como se os deuses se divertissem em
erguer hoje às alturas da glória os que amanhã
tombariam na mais dura ruína e vice-versa. Mas essa
já é uma outra história.
Em pouco tempo, uma cidade próspera e rica
tombava em ruínas junto com seu velho rei, Príamo,
logo reduzido a um mísero corpo decapitado, sem
ninguém que lhe desse sepultura. Em pouco tempo,
toda a cidade se enchia de lágrimas de mulheres e
crianças logo escravizadas para servir aos senhores
gregos. As trevas que haviam dissimulado a
irrupção do inimigo pela cidade iluminavam-se com
o fogo de um incêndio que parecia querer durar para
todo o sempre.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
A Guerra de Tróia (Parte IV)
O calcanhar de Aquiles
O mais bravo dos guerreiros gregos era Aquiles,
o herói de pés ligeiros. Sendo filho de um mortal
com uma ninfa, estava destinado à morte. Mas sua
mãe, Tétis, tentou desesperadamente torná-lo imortal.
Segurando o filho pelo calcanhar, ela o
mergulhava nas águas do Estige, o rio dos Infernos,
que tornava invulnerável o que nele mergulhasse. A
ninfa, porém, não percebeu que o calcanhar, por
onde segurava Aquiles, acabou não sendo tocado por
aquela água miraculosa; assim, essa parte do corpo
do herói seria a única que armas humanas ou divinas
poderiam atingir.
Na sua infância, Aquiles foi educado por um ser
de vastos conhecimentos e muita sabedoria: o
centauro Quirão. Esse mestre, que também educara
outros heróis, ensinou ao menino a medicina, a arte
da caça, a música e muito mais.
Quando os gregos preparavam a expedição para
punir Tróia, Tétis, assustada, já que sabia que o filho
teria vida breve se participasse da guerra, tentou
escondê-lo. Vestiu-o de mulher e o colocou entre as
filhas do rei de Ciros, uma ilha grega. Ali viveu cerca
de nove anos. Chegou a se casar, em segredo, com
uma das filhas do rei.
No entanto, Calcas, o adivinho do exército grego,
advertiu:
— Tróia não cairá se Aquiles não combater ao
nosso lado! Ele está escondido na ilha de Ciros.
Odisseu, então, sempre astuto, descobriu um
modo de fazer Aquiles revelar sua identidade
verdadeira e, assim, ser obrigado a partir para a guerra.
Disfarçou-se de mercador e se dirigiu até Ciros. Ao
exibir suas ricas mercadorias, percebeu que todas as
moças se interessavam pelas roupas, tecidos, jóias e
perfumes que trazia, menos uma; uma delas, apenas,
parecia indiferente a tudo aquilo. Mas ao descobrir, no
fundo de um dos cestos do mercador, armas reluzentes,
aquela moça, na verdade Aquiles, imediatamente as
pegou e manuseou com interesse. Outra versão da
história diz que Odisseu fez ressoar pelo palácio real
uma trombeta de guerra, fazendo todas as moças
fugirem correndo, assustadas; Aquiles, porém,
permaneceu onde estava e pediu armas para combater.
Seja como for, traiu-se, e Odisseu o conduziu para
junto do exército grego. Levava consigo, além de
companheiros de armas, duas pessoas que lhe eram
muito próximas: Fênix, um preceptor, homem já
velho, e Pátroclo, seu maior amigo.
tre.
Lutou bravamente ao lado dos outros gregos, sem
nunca ter visto a queda de Tróia. Quando morreu
Heitor, às mãos de Aquiles, as amazonas vieram em
socorro da cidade. O herói lutou com elas e matoulhes
a rainha, Pentesiléia, que combatia com o rosto
coberto. Ao receber o golpe mortal, o rosto da
amazona se descobriu. Frente a frente com a beleza
extraordinária das faces de Pentesiléia, quando ela já
desfalecia, Aquiles sentiu um misto de amor e
compaixão.
Dizem alguns que um outro amor ajudaria a
provocar sua morte. Apaixonado por uma das
cinqüenta filhas de Príamo, Políxena, marcou com
ela um encontro. Páris, irmão da moça, preparou-lhe
uma emboscada. Quando Aquiles chegou ao lugar
combinado, o troiano acertou-lhe o calcanhar com
uma flecha. Mas há quem diga que Aquiles morreu
no campo de batalha, ferido por uma flecha do deus
Apolo, que ordenara que ele se retirasse sem que o
jovem obedecesse. Naquele momento, Aquiles
conseguira chegar perto das muralhas troianas;
Apolo, então, guiou a flecha disparada por Páris até
o ponto fraco do grego.
Depois de lhe queimarem o corpo, os
companheiros puseram suas cinzas numa urna de
ouro, misturadas com a do amigo Pátroclo. Ao
permanecer lutando em Tróia, fizera sua escolha:
viver uma vida breve e gloriosa, ao invés de
envelhecer na terra natal, como um desconhecido
qualquer.
O mais bravo dos guerreiros gregos era Aquiles,
o herói de pés ligeiros. Sendo filho de um mortal
com uma ninfa, estava destinado à morte. Mas sua
mãe, Tétis, tentou desesperadamente torná-lo imortal.
Segurando o filho pelo calcanhar, ela o
mergulhava nas águas do Estige, o rio dos Infernos,
que tornava invulnerável o que nele mergulhasse. A
ninfa, porém, não percebeu que o calcanhar, por
onde segurava Aquiles, acabou não sendo tocado por
aquela água miraculosa; assim, essa parte do corpo
do herói seria a única que armas humanas ou divinas
poderiam atingir.
Na sua infância, Aquiles foi educado por um ser
de vastos conhecimentos e muita sabedoria: o
centauro Quirão. Esse mestre, que também educara
outros heróis, ensinou ao menino a medicina, a arte
da caça, a música e muito mais.
Quando os gregos preparavam a expedição para
punir Tróia, Tétis, assustada, já que sabia que o filho
teria vida breve se participasse da guerra, tentou
escondê-lo. Vestiu-o de mulher e o colocou entre as
filhas do rei de Ciros, uma ilha grega. Ali viveu cerca
de nove anos. Chegou a se casar, em segredo, com
uma das filhas do rei.
No entanto, Calcas, o adivinho do exército grego,
advertiu:
— Tróia não cairá se Aquiles não combater ao
nosso lado! Ele está escondido na ilha de Ciros.
Odisseu, então, sempre astuto, descobriu um
modo de fazer Aquiles revelar sua identidade
verdadeira e, assim, ser obrigado a partir para a guerra.
Disfarçou-se de mercador e se dirigiu até Ciros. Ao
exibir suas ricas mercadorias, percebeu que todas as
moças se interessavam pelas roupas, tecidos, jóias e
perfumes que trazia, menos uma; uma delas, apenas,
parecia indiferente a tudo aquilo. Mas ao descobrir, no
fundo de um dos cestos do mercador, armas reluzentes,
aquela moça, na verdade Aquiles, imediatamente as
pegou e manuseou com interesse. Outra versão da
história diz que Odisseu fez ressoar pelo palácio real
uma trombeta de guerra, fazendo todas as moças
fugirem correndo, assustadas; Aquiles, porém,
permaneceu onde estava e pediu armas para combater.
Seja como for, traiu-se, e Odisseu o conduziu para
junto do exército grego. Levava consigo, além de
companheiros de armas, duas pessoas que lhe eram
muito próximas: Fênix, um preceptor, homem já
velho, e Pátroclo, seu maior amigo.
tre.
Lutou bravamente ao lado dos outros gregos, sem
nunca ter visto a queda de Tróia. Quando morreu
Heitor, às mãos de Aquiles, as amazonas vieram em
socorro da cidade. O herói lutou com elas e matoulhes
a rainha, Pentesiléia, que combatia com o rosto
coberto. Ao receber o golpe mortal, o rosto da
amazona se descobriu. Frente a frente com a beleza
extraordinária das faces de Pentesiléia, quando ela já
desfalecia, Aquiles sentiu um misto de amor e
compaixão.
Dizem alguns que um outro amor ajudaria a
provocar sua morte. Apaixonado por uma das
cinqüenta filhas de Príamo, Políxena, marcou com
ela um encontro. Páris, irmão da moça, preparou-lhe
uma emboscada. Quando Aquiles chegou ao lugar
combinado, o troiano acertou-lhe o calcanhar com
uma flecha. Mas há quem diga que Aquiles morreu
no campo de batalha, ferido por uma flecha do deus
Apolo, que ordenara que ele se retirasse sem que o
jovem obedecesse. Naquele momento, Aquiles
conseguira chegar perto das muralhas troianas;
Apolo, então, guiou a flecha disparada por Páris até
o ponto fraco do grego.
Depois de lhe queimarem o corpo, os
companheiros puseram suas cinzas numa urna de
ouro, misturadas com a do amigo Pátroclo. Ao
permanecer lutando em Tróia, fizera sua escolha:
viver uma vida breve e gloriosa, ao invés de
envelhecer na terra natal, como um desconhecido
qualquer.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
A Guerra de Troia (Parte III)
A morte de Heitor
Após fazer as pazes com Agamêmnon, Aquiles
retornou ao campo de batalha, onde
guerreava com fúria. Rápido por causa de
seus pés ligeiros, parecia um corcel galopando a toda
velocidade ou uma estrela brilhando através da
planície. Tomado por um mau pressentimento, o rei
Príamo suplicou a seu filho Heitor que não o
enfrentasse. Hécuba, sua mãe, em lágrimas, fez-lhe a
mesma súplica. O troiano, porém, estava decidido a
não ceder ao apelo dos pais.
No entanto, quando Heitor avistou Aquiles, com
sua armadura de bronze brilhando como um fogo ou
o sol nascente, teve medo e fugiu. Aquiles voou atrás
dele, perseguindo-o sem descanso. Estava em jogo,
naquela corrida, a vida de Heitor. Assistiam a esse
espetáculo não só gregos e troianos mas também os
deuses; Zeus sentiu piedade do filho de Príamo.
Os heróis corriam sem que um conseguisse
alcançar o outro. O pai e rei dos deuses, então, pesou
numa balança de ouro os destinos dos dois: o
resultado indicou claramente que a vida do troiano
estava por um fio. Diante disso, Apolo, que até então
o vinha protegendo, abandonou-o.
Para precipitar a morte de Heitor, Atena se
transformou no mais querido dentre seus irmãos,
Deífobo, e o estimulou a ir ao encontro de Aquiles.
Heitor disse ao grego estas palavras:
— Não vou mais fugir. Dei três voltas ao redor
dos muros de Tróia sem ousar enfrentá-lo, mas agora
basta. Se eu vencer, devolverei seu corpo aos seus
companheiros e, se for você o vencedor, devolva
meu corpo aos meus.
— Não diga isso, maldito!, respondeu Aquiles.
Nunca poderemos ser amigos, assim como acontece
com o homem e o leão, com o lobo e o cordeiro, que
se odeiam. Você pagará pelos sofrimentos dos meus
companheiros mortos pela sua lança.
Depois destas palavras, Aquiles atirou a lança
contra Heitor. Como este se desviou, a arma foi se
fincar no chão. A própria Palas Atena a pegou de
volta e, sem ser vista pelo troiano, entregou-a a
Aquiles. Heitor, porém, atirou a sua contra o herói,
atingindo o centro de seu escudo. O troiano, irritado,
de repente percebeu que o falso Deífobo não estava
mais do seu lado; compreendendo que fora vítima
dos deuses, deu-se conta de que sua morte já estava
próxima. Resolveu morrer lutando: desembainhou a
espada e se precipitou contra Aquiles.
No entanto, o grego fere o pescoço de Heitor,
num ponto deixado descoberto pela armadura que o
troiano portava, a mesma que tomara de Pátroclo. Ao
vê-lo tombar na poeira, Aquiles lhe diz palavras
duras; Heitor ainda lhe dirige um pedido:
— Suplico-lhe, por seus pais, não deixe meu
corpo sem sepultura, não o entregue aos cães dos
gregos. Aceite resgate em troca dele e o devolva a
Tróia.
— Ah!, cão, deixe de súplicas. Nem se Príamo
quisesse comprar com ouro o seu corpo, eu o
entregaria. Cães e aves o devorarão, replica o grego.
Morto Heitor, Aquiles lhe furou os calcanhares,
passou por eles correias de couro, amarrou, pelos
pés, o corpo a seu carro e partiu em direção aos
navios gregos. Ao assistir a essa cena, a mulher de
Heitor, Andrômaca, depois de um desmaio,
chorando, pôs-se a lamentar a sorte do marido, dela
mesma e do filho pequeno de ambos, Astíanax. Tróia
toda acompanhava seu pranto.
Enquanto isso, também Aquiles chorava,
pensando em Pátroclo. E todos os dias, ao nascer do
sol, tomado de fúria, voltava a ligar o corpo de Heitor
a seu carro e dava três voltas em torno do túmulo do
amigo. Apolo, porém, encarregava-se de evitar que o
corpo do troiano se desfigurasse com o tratamento
que vinha recebendo. Até que, dez dias depois, o
deus, indignado, assim falou aos outros habitantes do
Olimpo:
— Cruéis! Por acaso Heitor não fazia sacrifícios
a todos vocês? E agora não querem salvar nem
mesmo seu corpo para que seus familiares possam
incinerá-lo, prestando-lhe
todas as homenagens?
Vocês querem é
ajudar Aquiles, que
tem no peito um coração
intratável, como
um leão feroz. O que
ele faz com o corpo de
Heitor não é nem belo
nem justo.
Mas Zeus, lembra:
-Aquiles cuida do ferimento de seu amigo
Pátroclo.
do dos sacrifícios que Heitor sempre lhe fazia, pôs
em prática um plano para fazer Aquiles entregar o
corpo do inimigo a seu pai. Chamou Tétis ao Olimpo
e encarregou-a de enviar a seu filho uma mensagem:
-os deuses estavam irritados com seu comportamento,
por isso ele deveria devolver o corpo de Heitor aos
troianos. Por outro lado, mandou Íris, a mensageira
divina, a Príamo, para estimular o velho rei a ir
oferecer presentes a Aquiles como resgate pelo corpo
do filho.
Ao ouvir as palavras de Zeus pela boca da mãe,
Aquiles se comprometeu a aceitar o resgate. Quanto
a Príamo, após receber o recado de Íris, consultou a
esposa, mas Hécuba lhe disse que não fosse ao
encontro daquele homem cruel; finalmente, o rei
resolveu ir mesmo
assim ao encontro do
grego. Levava-lhe,
entre outros presentes,
belíssimos mantos,
túnicas e moedas
de ouro. Zeus o viu
partindo e enviou o
deus Hermes para
protegê-lo no caminho.
Chegando à tenda
de Aquiles, Príamo o
encontrou ainda à
mesa; tinha acabado
de comer e beber.
Em atitude de quem suplica, segurou-lhe os joelhos e
beijou a mão que tinha matado tantos filhos seus.
Disse-lhe:
— Lembre-se, Aquiles, de seu pai, que tem a
mesma idade que eu. Ele se alegra por saber que
você está vivo e aguarda com ansiedade que seu filho
volte para casa. Mas a mim, não me restou nenhum
dos filhos de valor que gerei. Você matou o último,
Heitor, que protegia Tróia e seu povo. Venho resgatar
seu corpo, trazendo muitos presentes. Respeite os
deuses, Aquiles, e, pensando em seu velho pai, tenha
piedade de mim. Eu sou o mais infeliz dos mortais,
já que levo aos lábios a mão do homem que matou
meus filhos!
A essas palavras, Aquiles, pensando no pai e em
Pátroclo, chorou, acompanhando as lágrimas de
Príamo por Heitor. Finalmente, tomou a palavra:
— Infeliz, você sofreu muito em seu coração!
Deixemos ambos nossas dores encerradas no peito:
não se ganha nada com o pranto. Zeus distribui aos
homens bens e males, misturados. Suporte!
Chorando assim, não fará seu filho reviver mas
conseguirá apenas sofrer ainda mais.
Aquiles, então, mandou que as escravas lavassem
o corpo de Heitor e o untassem com óleo. Concluída
essa tarefa, colocaram-lhe uma túnica. O próprio
Aquiles o levantou e depositou no carro. Depois disso,
convidou Príamo a comer junto com ele. Príamo
observava, admirado, o grande e belo Aquiles, que
parecia um deus; Aquiles, por sua vez, admirava o
rosto nobre de Príamo.
Antes de irem dormir, o jovem prometeu ao velho
rei que haveria uma trégua para que ele e os seus
pudessem prestar as honras devidas ao corpo de
Heitor. Temendo por Príamo, que estava em campo
de inimigos, o deus Hermes veio a ele, incitou-o a
partir e guiou-o em direção a Tróia. Chegaram
quando a Aurora estendia seu manto sobre toda a
terra.
Dez dias depois, ardia na pira o corpo de Heitor.
Quando, no dia seguinte, a Aurora de dedos cor de
rosa despontou, a multidão se reuniu em torno dela
e prestou as últimas homenagens àquele homem que
tinha conseguido conter o avanço do inimigo por
tantos anos.
Este foi o fim de Heitor, o herói domador de
cavalos.
Após fazer as pazes com Agamêmnon, Aquiles
retornou ao campo de batalha, onde
guerreava com fúria. Rápido por causa de
seus pés ligeiros, parecia um corcel galopando a toda
velocidade ou uma estrela brilhando através da
planície. Tomado por um mau pressentimento, o rei
Príamo suplicou a seu filho Heitor que não o
enfrentasse. Hécuba, sua mãe, em lágrimas, fez-lhe a
mesma súplica. O troiano, porém, estava decidido a
não ceder ao apelo dos pais.
No entanto, quando Heitor avistou Aquiles, com
sua armadura de bronze brilhando como um fogo ou
o sol nascente, teve medo e fugiu. Aquiles voou atrás
dele, perseguindo-o sem descanso. Estava em jogo,
naquela corrida, a vida de Heitor. Assistiam a esse
espetáculo não só gregos e troianos mas também os
deuses; Zeus sentiu piedade do filho de Príamo.
Os heróis corriam sem que um conseguisse
alcançar o outro. O pai e rei dos deuses, então, pesou
numa balança de ouro os destinos dos dois: o
resultado indicou claramente que a vida do troiano
estava por um fio. Diante disso, Apolo, que até então
o vinha protegendo, abandonou-o.
Para precipitar a morte de Heitor, Atena se
transformou no mais querido dentre seus irmãos,
Deífobo, e o estimulou a ir ao encontro de Aquiles.
Heitor disse ao grego estas palavras:
— Não vou mais fugir. Dei três voltas ao redor
dos muros de Tróia sem ousar enfrentá-lo, mas agora
basta. Se eu vencer, devolverei seu corpo aos seus
companheiros e, se for você o vencedor, devolva
meu corpo aos meus.
— Não diga isso, maldito!, respondeu Aquiles.
Nunca poderemos ser amigos, assim como acontece
com o homem e o leão, com o lobo e o cordeiro, que
se odeiam. Você pagará pelos sofrimentos dos meus
companheiros mortos pela sua lança.
Depois destas palavras, Aquiles atirou a lança
contra Heitor. Como este se desviou, a arma foi se
fincar no chão. A própria Palas Atena a pegou de
volta e, sem ser vista pelo troiano, entregou-a a
Aquiles. Heitor, porém, atirou a sua contra o herói,
atingindo o centro de seu escudo. O troiano, irritado,
de repente percebeu que o falso Deífobo não estava
mais do seu lado; compreendendo que fora vítima
dos deuses, deu-se conta de que sua morte já estava
próxima. Resolveu morrer lutando: desembainhou a
espada e se precipitou contra Aquiles.
No entanto, o grego fere o pescoço de Heitor,
num ponto deixado descoberto pela armadura que o
troiano portava, a mesma que tomara de Pátroclo. Ao
vê-lo tombar na poeira, Aquiles lhe diz palavras
duras; Heitor ainda lhe dirige um pedido:
— Suplico-lhe, por seus pais, não deixe meu
corpo sem sepultura, não o entregue aos cães dos
gregos. Aceite resgate em troca dele e o devolva a
Tróia.
— Ah!, cão, deixe de súplicas. Nem se Príamo
quisesse comprar com ouro o seu corpo, eu o
entregaria. Cães e aves o devorarão, replica o grego.
Morto Heitor, Aquiles lhe furou os calcanhares,
passou por eles correias de couro, amarrou, pelos
pés, o corpo a seu carro e partiu em direção aos
navios gregos. Ao assistir a essa cena, a mulher de
Heitor, Andrômaca, depois de um desmaio,
chorando, pôs-se a lamentar a sorte do marido, dela
mesma e do filho pequeno de ambos, Astíanax. Tróia
toda acompanhava seu pranto.
Enquanto isso, também Aquiles chorava,
pensando em Pátroclo. E todos os dias, ao nascer do
sol, tomado de fúria, voltava a ligar o corpo de Heitor
a seu carro e dava três voltas em torno do túmulo do
amigo. Apolo, porém, encarregava-se de evitar que o
corpo do troiano se desfigurasse com o tratamento
que vinha recebendo. Até que, dez dias depois, o
deus, indignado, assim falou aos outros habitantes do
Olimpo:
— Cruéis! Por acaso Heitor não fazia sacrifícios
a todos vocês? E agora não querem salvar nem
mesmo seu corpo para que seus familiares possam
incinerá-lo, prestando-lhe
todas as homenagens?
Vocês querem é
ajudar Aquiles, que
tem no peito um coração
intratável, como
um leão feroz. O que
ele faz com o corpo de
Heitor não é nem belo
nem justo.
Mas Zeus, lembra:
-Aquiles cuida do ferimento de seu amigo
Pátroclo.
do dos sacrifícios que Heitor sempre lhe fazia, pôs
em prática um plano para fazer Aquiles entregar o
corpo do inimigo a seu pai. Chamou Tétis ao Olimpo
e encarregou-a de enviar a seu filho uma mensagem:
-os deuses estavam irritados com seu comportamento,
por isso ele deveria devolver o corpo de Heitor aos
troianos. Por outro lado, mandou Íris, a mensageira
divina, a Príamo, para estimular o velho rei a ir
oferecer presentes a Aquiles como resgate pelo corpo
do filho.
Ao ouvir as palavras de Zeus pela boca da mãe,
Aquiles se comprometeu a aceitar o resgate. Quanto
a Príamo, após receber o recado de Íris, consultou a
esposa, mas Hécuba lhe disse que não fosse ao
encontro daquele homem cruel; finalmente, o rei
resolveu ir mesmo
assim ao encontro do
grego. Levava-lhe,
entre outros presentes,
belíssimos mantos,
túnicas e moedas
de ouro. Zeus o viu
partindo e enviou o
deus Hermes para
protegê-lo no caminho.
Chegando à tenda
de Aquiles, Príamo o
encontrou ainda à
mesa; tinha acabado
de comer e beber.
Em atitude de quem suplica, segurou-lhe os joelhos e
beijou a mão que tinha matado tantos filhos seus.
Disse-lhe:
— Lembre-se, Aquiles, de seu pai, que tem a
mesma idade que eu. Ele se alegra por saber que
você está vivo e aguarda com ansiedade que seu filho
volte para casa. Mas a mim, não me restou nenhum
dos filhos de valor que gerei. Você matou o último,
Heitor, que protegia Tróia e seu povo. Venho resgatar
seu corpo, trazendo muitos presentes. Respeite os
deuses, Aquiles, e, pensando em seu velho pai, tenha
piedade de mim. Eu sou o mais infeliz dos mortais,
já que levo aos lábios a mão do homem que matou
meus filhos!
A essas palavras, Aquiles, pensando no pai e em
Pátroclo, chorou, acompanhando as lágrimas de
Príamo por Heitor. Finalmente, tomou a palavra:
— Infeliz, você sofreu muito em seu coração!
Deixemos ambos nossas dores encerradas no peito:
não se ganha nada com o pranto. Zeus distribui aos
homens bens e males, misturados. Suporte!
Chorando assim, não fará seu filho reviver mas
conseguirá apenas sofrer ainda mais.
Aquiles, então, mandou que as escravas lavassem
o corpo de Heitor e o untassem com óleo. Concluída
essa tarefa, colocaram-lhe uma túnica. O próprio
Aquiles o levantou e depositou no carro. Depois disso,
convidou Príamo a comer junto com ele. Príamo
observava, admirado, o grande e belo Aquiles, que
parecia um deus; Aquiles, por sua vez, admirava o
rosto nobre de Príamo.
Antes de irem dormir, o jovem prometeu ao velho
rei que haveria uma trégua para que ele e os seus
pudessem prestar as honras devidas ao corpo de
Heitor. Temendo por Príamo, que estava em campo
de inimigos, o deus Hermes veio a ele, incitou-o a
partir e guiou-o em direção a Tróia. Chegaram
quando a Aurora estendia seu manto sobre toda a
terra.
Dez dias depois, ardia na pira o corpo de Heitor.
Quando, no dia seguinte, a Aurora de dedos cor de
rosa despontou, a multidão se reuniu em torno dela
e prestou as últimas homenagens àquele homem que
tinha conseguido conter o avanço do inimigo por
tantos anos.
Este foi o fim de Heitor, o herói domador de
cavalos.
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