terça-feira, 13 de abril de 2010

Narciso

Quando Narciso nasceu, sua mãe, uma ninfa
belíssima, consultou o adivinho Tirésias para saber
se aquele filho de extraordinária beleza viveria até o
fim de uma longa velhice. Pareceram sem sentido as
suas palavras:
— Sim, se ele não chegar a se conhecer.
Narciso cresceu, sempre formoso. Jovem, muitas
moças e ninfas queriam o seu amor, mas o rapaz
desprezava a todas.
Um dia, Narciso caçava na floresta quando a
ninfa Eco o viu. Eco, por causa de uma punição que
Hera lhe infligira, só era capaz de usar da voz para
repetir os sons das palavras dos outros. Ao se deparar
com a beleza de Narciso, a ninfa se apaixonou por
ele e se pôs a segui-lo. Quando resolveu manifestar o
seu amor, abraçando-o, Narciso a repeliu.
Desprezada e envergonhada, Eco se escondeu nos
bosques com o rosto coberto de folhagens. O amor
não correspondido a foi consumindo pouco a pouco,
até que, depois de reduzida a pele e osso, seu corpo
se dissipou nos ares. Restou-lhe, apenas, a voz e os
ossos, que, segundo dizem, tomaram a forma de
pedras.
Um dia, uma das muitas jovens desprezadas por
Narciso, erguendo as mãos para o céu, disse:
— Que Narciso ame também com a mesma
intensidade sem poder possuir a pessoa amada!
Nêmesis, a divindade punidora do crime e das
más ações, escutou esse pedido e o satisfez.
Havia uma fonte límpida, de águas prateadas e
cristalinas, de que jamais homem, animal ou pássaro
algum se tinham aproximado. Narciso, cansado pelo
esforço da caça, foi descansar por ali.
 Ao se inclinar
para beber da água da fonte, viu, de repente, sua
imagem refletida na água e encantou-se com a visão.
Fascinado, quedou imóvel como uma estátua,
contemplando seus próprios olhos, seus cabelos
dignos de Dioniso ou Apolo, suas faces lisas, seu
pescoço de marfim, a beleza de seus lábios e o rubor
que cobria de vermelho o rosto de neve. Apaixonou-se
por si mesmo, sem saber que aquela imagem era a
sua, refletida no espelho das águas.
Nada conseguia arrancar Narciso da
contemplação, nem fome, nem sede, nem sono.
Várias vezes lançou os braços dentro da água para
tentar inutilmente reter com um abraço aquele ser
encantador. Chegou a derramar lágrimas, que iam
turvar a imagem refletida. Desesperado e quase sem
forças, foram estas suas últimas palavras:
— Ah!, menino amado por mim inutilmente!
Adeus!
O lugar em que estava fez ecoar o que dissera. E
quando proferiu “Adeus!”, Eco também disse
“Adeus!”.
Em seguida, esgotado, Narciso se deitou sobre a
relva, e a Noite veio fechar seus olhos. Diz-se que,
nos Infernos, Narciso continua a contemplar sua
imagem refletida nas águas do rio Estige.
As ninfas, juntamente com Eco, choraram
tristemente pela morte de Narciso. Já preparavam
para o seu corpo uma pira quando notaram que
desaparecera. No seu lugar, havia apenas uma flor
amarela, com pétalas brancas no centro.

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